Pontos Principais

Mal deixamos o El Niño para trás e já se fala em La Niña assumindo o controle. Embora a probabilidade da sua ocorrência esteja aumentando, não há consenso sobre quando e quão forte poderá ser. Da perspectiva do Centro-Sul (CS) do Brasil, nos preocupamos com os possíveis impactos sobre a cana – e claro, no açúcar.

É oficial. Segundo o NOAA (United States National Oceanic and Atmospheric Administration), o El Niño está chegando ao fim. Agora a questão é se veremos a fase neutra durando até outubro, ou a La Niña assume já a partir de junho. 

Fonte: NOAA

A ocorrência de uma La Niña no CS Brasil terá impactos nesta e/ou na próxima safra de cana. Veja abaixo o que esperar.

Qual a Probabilidade?

Os modelos meteorológicos têm divergido em torno das previsões de quando esperar a ocorrência de uma La Niña. Então, pedimos mais detalhes ao nosso especialista, Wesley Pavan (CZ Energy Manager).

O que mostram os modelos meteorológicos?

WP: O modelo europeu (ECMWF) mostrou redução da temperatura da superfície do mar (TSMs) para um nível de neutralidade ou mesmo um La Niña fraco. Enquanto isso, o modelo americano (CFSV2) aponta para um risco de uma La Niña forte. Mas ambos preveem uma ocorrência em setembro.

Qual é o melhor para acompanhar?

WP: Normalmente, o modelo americano é mais confiável para este tipo de previsão. No entanto, o fato da divergência entre modelos é suficiente para apontarem uma chance menor de La Niña. 

Mesmo que sejam divergentes, podemos assumir com segurança que veremos a influência do La Niña em 2024?

WP: Sim, acreditamos que a mudança da neutralidade para La Niña provavelmente impactará as chuvas a partir de outubro, quando começa a estação chuvosa no Brasil.

Dado que um La Niña é esperado no quarto trimestre, o inverno no CS Brasil não deve ser marcado por ocorrências de geadas extremas?

Fonte: IRI

WP: Sim, até o IRI (Instituto Internacional de Investigação para o Clima e a Sociedade) mostrou uma redução significativa da probabilidade de um La Niña entre Junho-Julho-Agosto (JJA). Assim, o risco de ocorrência de geadas com intensidade que possa danificar grandes áreas de cana deve ser menor. 

Qual o Impacto no Brasil?

Primeiro, precisamos recapitular os impactos de um La Niña em cada região do Brasil. A zona Sul do país tende a ser mais fria e com menos precipitação do que o normal. Para as regiões Norte e Nordeste observa-se precipitação acima da média.

Porém, a região CS (onde a cana é cultivada) é uma zona de transição e o fenômeno La Niña não apresenta um padrão característico de mudança de temperatura ou precipitação. Vai depender muito da intensidade do evento. 

Mas devemos ficar de olho, mesmo assim. Tomando como referência os últimos eventos de La Niña ocorridos entre 2010-2012 e o mais recente em 2020, a seca foi sentida na região, impactando a produtividade agrícola de diversas culturas – incluindo a cana-de-açúcar. 

O Que Significa para Cana?

Como os modelos mostram uma maior probabilidade de La Niña a partir do quarto trimestre, espera-se que o inverno no CS Brasil (junho-agosto) esteja dentro da normalidade, ou seja, sem geadas extremas.

A probabilidade de menos chuvas a partir de outubro, beneficiaria a moagem das usinas em 2024/25. Dependendo da disponibilidade de cana, as usinas poderão moer até dezembro – assim como no ano passado.

No entanto, vemos um sinal de alerta para a safra 2025/26. Se chover abaixo da média no T4 e T1 o desenvolvimento da cana será afetado, resultando em produtividade agrícola menor. Embora nosso balanço atualmente trabalhe com 618 milhões de moagem e 42,3 milhões de toneladas de produção de açúcar para 2025/26, um evento La Niña poderia reduzir as estimativas de produção para a próxima temporada. Em média, 10 milhões de toneladas a menos de cana poderiam reduzir a produção de açúcar em 700 mil toneladas.

Ana Zancaner

Ana graduated from Insper University Sao Paulo in 2013, with a bachelor’s degree in business administration. She joined CZ as an intern in 2013 and is now our senior analyst in our Sao Paulo office. At CZ she is responsible mainly for analysis of the Brazilian sugar and ethanol sector but supporting other consulting requests as well.

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