Pontos Principais
- Hidrogênio verde é obtido através da eletrólise da água feita com fontes renováveis.
- Rico em energias renováveis, Brasil deve investir US$ 27 bilhões no hidrogênio verde.
- A maior parte do hidrogênio pode ser exportada, potencialmente para a Europa.
A agenda da transição energética e a demanda crescente pelo controle de emissão de CO2 vêm dando destaque a novas fontes renováveis. Uma delas é o hidrogênio verde. Sua produção tem a vantagem de não emitir poluentes, já que é obtido a partir da eletrólise da água realizada com fontes renováveis, como a solar e a eólica. Além disso, seu alto poder calorífico proporciona uma expressiva geração energética, o que torna um gás um elemento-chave em processos de descarbonização.
Além da geração de energia, o hidrogênio pode ser utilizado na síntese de amônia, fundamental para a produção de fertilizantes, e em diversos processos industriais. O gás também deve exercer um papel importante na descarbonização do setor de transportes, sendo usado como combustível em veículos pesados, carros e até trens, embora sejam necessários mais avanços tecnológicos para o uso em larga escala.
Fonte: DNV Hydrogen Forecast to 2050
As perspectivas de crescimento do mercado, que começa a dar seus primeiros passos, vêm estimulando investimentos, com vários países na disputa pela produção e exportação. O Brasil, rico em energia solar e eólica, está nessa corrida.
Fonte: EPE
Os projetos para a produção e exportação de hidrogênio verde no país somam mais de US$ 27 bilhões, segundo um levantamento do Instituto Econômico de Pesquisa Aplicada (Ipea). São recursos provenientes do governo brasileiro, empresas privadas e países europeus, como a Alemanha e a França. A Petrobras e portos públicos também estão empenhados em fazer essa roda girar mais rápido.
Porto de Suape: investimentos em inovação para produzir hidrogênio verde. Foto divulgação.
Os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará, no litoral nordestino, já vêm atraindo investimentos. “O Brasil, em que mais de 70% da energia é gerada de forma limpa, está muito bem-posicionado para fornecer hidrogênio verde”, diz Marcio Guiot, diretor-presidente do porto de Suape. “Já demos início a projetos importantes e parcerias para produzir e transportar o produto”.
Empresas como a Qair, de origem francesa, pretendem investir na produção de hidrogênio verde na região do porto de Suape. Ao mesmo tempo, o Senai está implementando no local um centro de inovação, o TecHUB, voltado ao desenvolvimento de tecnologias inovadoras para a produção, armazenamento e transporte do hidrogênio verde.
Representantes do porto de Suape recebem visita do Czapp no TecHUB de hidrogênio verde. Foto divulgação.
A ideia é turbinar a fabricação de hidrogênio verde para atender tanto o mercado interno, em setores como o de fertilizantes e produtos químicos, como o externo – nesse caso, um dos principais focos é a União Europeia. Os países europeus pretendem importar 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde até 2030, além de produzir outros 10 milhões de toneladas, segundo a Comissão Europeia.
Para cumprir essa meta, vai ser necessário pisar no acelerador. No ano passado, o hidrogênio verde foi responsável por apenas 2% do consumo de energia no bloco, sendo que 96% do hidrogênio total utilizado foram produzidos a partir do gás natural (o chamado hidrogênio cinza, na classificação utilizada pelo mercado).
O objetivo é inverter o jogo. Para isso, a Europa pretende investir cerca de 9,2 bilhões de euros até 2030. Devem ser implementados 840 projetos de infraestrutura e desenvolvimento de novas tecnologias para a produção de hidrogênio verde em todo o bloco. Também está em discussão a criação de um banco, o European Hydrogen Bank, para turbinar os financiamentos.
No Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) anunciou a criação de uma linha de crédito especial para projetos de hidrogênio verde. O valor máximo do financiamento chega, por enquanto, a R$ 300 milhões.
Vários países estão na disputa para produzir e exportar hidrogênio verde. O Chile, por exemplo, lançou um plano de governo, em 2020, para produzir o gás a custos competitivos até 2030. No Oriente Médio, a Arábia Saudita anunciou investimentos da ordem de US$ 8,3 bilhões na produção da substância.
Países como a Austrália também pretendem se tornar grandes produtores. Na África, devem ser geradas cerca de 3,4 milhões de toneladas de hidrogênio verde nos próximos sete anos.
Não à toa, 90% dos cerca de 4.300 quilômetros de gasodutos disponíveis no mundo para transportar hidrogênio estão, atualmente, na Europa e na América do Norte, que vêm liderando a demanda pelo gás. Estimativas de mercado apontam que 91 projetos de infraestrutura deverão se concretizar globalmente até 2035, somando 30.300 quilômetros de dutos.
Desafios
Essa corrida pela descarbonização e a transição energética não está livre de desafios. Para começar, será necessário um volume expressivo de investimento para possibilitar a produção em larga escala. Estudos preliminares apontam só o Brasil precisará de US$ 200 bilhões, nas próximas décadas, para se tornar um competidor a nível mundial.
Globalmente, a produção em larga escala deverá ajudar a reduzir custos e reduzir o preço final, hoje na casa de US$ 6 por quilo (duas a três vezes mais do que o hidrogênio obtido a partir de combustíveis fósseis), outro fator importante para impulsionar o mercado. Há ainda outra questão. Para ser transportado, em geral o hidrogênio é convertido em amônia. Nesse ponto, há um desafio adicional. Devido a características específicas do hidrogênio, os gasodutos precisam ter diâmetros maiores e um nível de pressão superior ao convencional, o que demanda custos extras.
Nada disso, no entanto, configura empecilhos para a expansão do mercado. Na visão do setor, trata-se de desafios que devem ser superados com ganho de escala, aumento da demanda e avanços tecnológicos que impactem positivamente a produção e o transporte.