Pontos principais
O atraso na colheita da soja 23/24 comprometeu o calendário de colheita do milho. Isto levou os produtores a explorar culturas alternativas devido aos baixos preços do milho. O sorgo emergiu como o principal concorrente.
Atraso na Janela Ideal de Plantio Como mencionamos em nosso relatório anterior, o plantio de soja foi marcado por secas nas regiões centrais do país e por chuvas extremas no Sul – os dois principais polos de produção de soja no Brasil. O clima adverso fez com que muitos produtores adiassem o início do plantio ou replantassem as lavouras, atrasando a colheita da soja.
A segunda safra de milho (“safrinha”), responsável por 80% da produção nacional de milho no Brasil, tem sua janela de plantio logo após a colheita da soja.
Assim, o atraso na soja fez com que se perdesse a janela ideal para o cultivo do milho.
Plantar fora da janela ideal pode resultar em menor produtividade da cultura e maior risco de perdas, uma vez que os períodos chuvosos e secos serão desadequados às necessidades da planta.
Portanto, os produtores que optarem por continuar com a segunda safra do milho, mesmo fora do calendário de cultivo, poderão enfrentar resultados financeiros abaixo do esperado.
Preços baixos = Margens mais baixas
Além da perda da janela ideal de cultivo, o preço do milho não é muito animador para os produtores. Com uma queda de 33% ano a ano, o milho está agora com os preços mais baixos desde 2020.
Fonte: Bloomberg
Considerando os preços atuais, uma boa colheita de milho não garante boa margem de retorno aos produtores.
No Mato Grosso, onde está localizado o maior cultivo de milho safrinha, a margem vem caindo drasticamente nas últimas 2 safras. Na safra 2022, os produtores produziram 61 sacas/ha, que caíram para 19 sacas/ha na safra passada. Para o próximo, a tendência de queda continua devido aos preços e às expectativas de baixa produtividade.
A história da soja se repete para o milho: mesmo com o custo de produção reduzido em relação à safra passada, o preço não garante melhor retorno aos produtores. Portanto, esperamos uma redução da área plantada de milho em 2 milhões de hectares para esta safra.
Outros estados de destaque, como Paraná, Mato Grosso do Sul e Goiás também apresentam queda nas margens operacionais.
Principais Concorrentes
Para esta segunda safra, muitos produtores poderão optar por culturas alternativas em suas áreas, deixando de lado o tradicional milho segundo safra após a cultura da soja.
Segundo a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento), o maior concorrente do milho para esta cultura será o sorgo.
A produção de sorgo cresceu rapidamente nos últimos anos e, apesar de ser pequena em comparação com a soja e o milho, está se tornando uma opção popular para a safrinha. O sorgo ainda tem usos semelhantes ao milho, sendo utilizado principalmente na alimentação animal, mas também pode ser utilizado na alimentação humana e na produção de farinhas/amidos para a indústria alimentícia.
A cultura, além de ser mais resistente a períodos de estiagem, também tem custos de produção mais baixos em comparação ao milho, podendo ser uma boa solução para os baixos retornos que o milho vem apresentando.
Esperamos que a área de sorgo aumente 8,2%. Sua maior área de plantio está localizada nos estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia (com 45% da produção total na região Centro-Oeste).
Fonte: CONAB
Além do sorgo, outras culturas como arroz (principalmente no sul do país), feijão e algodão também podem ocupar as áreas de plantio de milho na entressafra.
O Que Esperar Da Colheita Brasileira De Milho
Não é novidade que a colheita brasileira de milho deste ano será decepcionante em relação à safra passada. Após o recorde de 131 milhões de toneladas atingido no ano passado, prevemos uma queda de 20 milhões de toneladas, para 111 milhões de toneladas produzidas – retornando aos níveis mais baixos desde a safra 2021/22.
Além disso, com o plantio da segunda safra já concluído, os níveis de comercialização também são alarmantes. Até o momento, no estado de Mato Grosso, as vendas de milho estão bem abaixo do mínimo observado nos últimos 5 anos. Até a primeira semana de abril, o milho MT era vendido a 26,6%, mais de 32 pontos percentuais abaixo da média de 59%.
A janela de exportação deverá ser afetada não só pelo atraso na comercialização, mas também pelo atraso nas exportações de soja. Como mencionamos anteriormente, os produtores seguraram a soja devido aos preços desanimadores, fazendo com que a janela de exportação também fosse afetada. Mas a situação do milho é agora semelhante.
Enquanto em maio de 2023 já haviam saído 8 milhões de toneladas de milho dos portos brasileiros, em 2024 o volume caiu para 4,2 milhões – uma queda de 47% ano a ano. Com a redução da colheita deste ano, esperamos que as exportações caiam 15 milhões de toneladas, totalizando 35 milhões de toneladas de milho.
A grande dúvida é quando esse milho estará disponível para o mercado internacional. Embora ainda não tenhamos entrado na janela de exportação de grãos – que ocorre principalmente entre os meses de junho e agosto – já podemos observar atrasos nos volumes e, com as exportações de soja também fora da janela ideal, os portos brasileiros provavelmente ficarão congestionados quando esses grãos decidirem deixar o país.
Inundações Recentes no Sul do Brasil
Outra questão que preocupa o mercado são as recentes enchentes no estado do Rio Grande do Sul. A primeira safra de milho 23/24 ainda estava em fase de colheita quando fortes tempestades afetaram a região, deixando cidades e campos submersos e comprometendo maquinários, insumos, armazéns, etc. Estima-se que cerca de 27% das lavouras de milho ainda estavam sendo colhido.
Mas a colheita de milho de verão representa apenas 20% do total produzido no país. Além disso, o Rio Grande do Sul representa 15% da produção da safra de verão e apenas 3% da produção total nacional, não tendo participação significativa na segunda safra, já que o produto predominante na região é a soja – com área 8x maior que a de milho.
A soja e a indústria pecuária deverão ser as mais afetadas neste momento, com estimativas de que cerca de 6 milhões de toneladas de soja ainda repousam nos campos alagados. Já para a pecuária, as cheias impossibilitaram o pastoreio dos animais, além dos grandes desafios logísticos de transporte de animais e rações com acessos rodoviários danificados e perda de animais durante as cheias.
Acreditamos que, embora o impacto no milho não seja tão alarmante no momento, poderemos ver consequências da catástrofe na próxima safra com aumento nos custos de produção e redução na margem do produtor causada por danos às lavouras e perdas de equipamentos. Apesar disso, a extensão dos danos causados pelas chuvas ainda não pode ser estimada.