Pontos Principais
- Exportação 2021/22 (out-set) do Brasil já foi estimada em 94 mi de t, mas deve fechar abaixo de 80 mi.
- Quebra de safra e esmagamento maior têm papel na queda, mas demanda fraca da China pesa.
- Recuperação de demanda chinesa será fundamental para evitar excesso de oferta no Brasil em 2023.
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) fez, no último 12, mais um corte na estimativa de exportação de soja pelo Brasil na temporada 2021/22, que na periodização do órgão cobre o período de outubro do ano passado até setembro próximo. O volume é projetado agora em 80 milhões de toneladas – 14 milhões abaixo da estimativa mais alta deste ciclo, mantida até janeiro, quando se consolidou a quebra da safra brasileira por seca. A projeção também é inferior aos 82,8 milhões de toneladas estimados em abril, quando os embarques brasileiros começaram a perder fôlego, e aos 81 milhões de toneladas publicados em julho.
A exportação brasileira de soja em grãos está prejudicada nesta temporada pela produção menor na safra 2021/22 (o país colheu entre 124 milhões e 127 milhões de toneladas, dependendo da fonte, contra potencial inicial de 145 milhões) e pela perda de fôlego das importações chinesas.
No início de suas estimativas para a temporada 2021/22 (out-set), o USDA projetava a importação chinesa em 103 milhões de toneladas. Mas a quebra da safra brasileira, a alta nos preços internacionais da soja e as dificuldades enfrentadas pelo setor de suínos da China (resultado do desequilíbrio entre oferta e demanda, que gerou uma queda nos preços da carne num momento de alta nos custos de produção) levaram o órgão americano a cortar a estimativas diversas vezes nos últimos meses, até reduzi-la para 90 milhões de toneladas em julho, número que foi mantido agora em agosto.
Agosto e Setembro Mais Fracos
Com base nos dados da Secretaria de Comércio Exterior do Brasil, a exportação de soja acumulada de outubro de 2021 a julho de 2022 para todos os destinos soma 69,1 milhões de toneladas. Para fechar a temporada 2021/22 do USDA com 80 milhões de toneladas exportadas, o país precisará embarcar, portanto, 10,9 milhões de toneladas em agosto e setembro. Mas a expectativa para o mês de agosto, com base na programação de navios, não chega a 6 milhões de toneladas, contra 6,5 milhões no mesmo mês do ano passado.
Por isso, e como a demanda para setembro está fraca, é possível que o USDA acabe fazendo mais um corte na estimativa de exportação, para 79 milhões de toneladas ou até um pouco menos. O volume poderia ser ainda menor, não fosse o bom desempenho das exportações brasileiras no último trimestre de 2021 (início da temporada 2021/22, na periodização do USDA), quando os embarques americanos foram prejudicados por problemas logísticos.
À Espera da Nova Safra Americana
Em meados deste ano, a expectativa era de que o Brasil ainda pudesse fazer embarques superiores aos de 2021 nos meses de agosto e setembro. Mas, com preços mais altos (puxados pela pouca disposição dos produtores em vender a soja que ainda têm em mãos), sem quebra da safra 2022/23 dos EUA até o momento e com 9,6 milhões de toneladas da nova safra americana já vendidas para embarque à China a partir de 1º de setembro, o mais provável é que os volumes sejam inferiores.
Ainda às voltas com uma demanda mais fraca por farelo e margens de esmagamento negativas, as indústrias chinesas têm reduzido as compras de soja do Brasil para embarque em setembro. Diante da resistência do Brasil em reduzir os preços, os chineses têm preferido reforçar a importação nos EUA para embarque no último trimestre, período em que a soja americana recém-colhida domina o mercado e, normalmente, tem preços mais competitivos.
Compras de Outros Destinos Também Caem
Diferentemente do USDA, que mede as exportações no período outubro-setembro, no Brasil a temporada comercial da soja coincide com o ano civil. De janeiro a julho de 2022, o país exportou 60,5 milhões de toneladas, contra 66,2 milhões de toneladas no mesmo período de 2021. A China foi destino de 40,4 milhões de toneladas, abaixo dos 45,6 milhões de toneladas. Os demais destinos, encabeçados por União Europeia, Tailândia e Turquia, levaram 20,2 milhões de toneladas, volume quase estável em relação ao mesmo período do ano passado, num sinal de possível reversão da tendência de aumento das compras observada em 2020 e 2021.
Por conta do arrefecimento das importações chinesas e dos sinais de que as compras de outros destinos não devem ter crescimento significativo neste ano, a expectativa é de que a exportação de soja termine 2022 em torno de 75 milhões de toneladas, contra recorde de 86,1 milhões em 2021, quando a produção do Brasil foi maior e o consumo de farelo estava mais aquecido na China, que ainda estava em processo de recomposição de seu plantel suíno depois da Peste Suína Africana.
Estoques Curtos
Não que essa queda na exportação cause grande prejuízo ao Brasil. Embora ao volume exportado de janeiro a julho de 2022 tenha recuado 8,6% na comparação com os sete primeiros meses de 2021, os preços mais altos garantiram um faturamento de US$ 35,2 bilhões de janeiro a julho, 23% acima do mesmo período do ano passado. Além disso, o aumento na demanda internacional por óleo e farelo do Brasil reforçou as margens de esmagamento, levando a um crescimento no processamento de soja mesmo num ano de quebra de safra. Por isso, a expectativa é de os estoques finais de soja caiam 22%, de acordo com estimativa da Conab, e 31%, segundo a projeção da Abiove, entidade que reúne as indústrias esmagadoras do país.
Descompasso em 2023?
Com bons resultados garantidos em 2022 mesmo com queda no volume exportado de soja em grãos, o problema de um eventual excesso de oferta no Brasil fica para 2023. Ainda que haja expectativa de melhora na importação chinesa na temporada 2022/23 (que subiria de 90 milhões para 98 milhões de toneladas na projeção do USDA e de 91 milhões para 95 milhões de toneladas na estimativa do Casde, órgão do governo da China), a produção do Brasil tem potencial para um crescimento maior na safra 2022/23, que começa a ser plantada em meados de setembro. Com clima normal, a produção pode subir dos 124-126 milhões de toneladas da temporada 2021/22 para 146-152 milhões de toneladas.
Futuro
Marcada nas últimas décadas por um ritmo de crescimento semelhante ao do consumo chinês, a produção de soja do Brasil tem a possibilidade de continuar aumentando de forma acelerada nos próximos anos, devido à conversão de pastagens degradadas em área de lavouras. Uma projeção do Ministério da Agricultura divulgada no ano passado indica que a produção de soja do Brasil pode chegar a 206 milhões de toneladas na safra 2030/31.
O consumo chinês, por sua vez, também tem potencial de crescimento bastante significativo. Uma estimativa do USDA mostra que a importação chinesa de soja pode atingir 137,5 milhões de toneladas na temporada 2030/31. A exportação total do Brasil, por sua vez, é estimada em 131,8 milhões de toneladas, já que os demais exportadores não tendem a ter crescimento significativo nos próximos anos.
Num eventual cenário de desaceleração do consumo chinês nos próximos anos, porém, caberá ao Brasil escolher entre duas alternativas: ampliar o mercado, seja de soja em grãos, seja de farelo e óleo, para depender menos das importações chinesas; ou diminuir o ritmo de aumento de sua área plantada.