Pontos Principais
As tarifas dos EUA sobre o transporte marítimo geram preocupação no setor de biocombustíveis. Especialistas alertam que as regras podem aumentar os custos e prejudicar as exportações de etanol e produtos agrícolas. A China pode recorrer a outros fornecedores, agravando o impacto no comércio com os EUA.
A guerra comercial global desencadeada pela implementação inicial de tarifas dos EUA sobre produtos importados da China certamente terá impactos econômicos negativos no setor de transporte marítimo e em tudo o que é transportado, incluindo biocombustíveis como o etanol.
No centro da briga entre as duas maiores economias do mundo está a questão de qual país vai dominar o alto mar.

Os volumes de contêineres para os EUA já foram afetados devido à incerteza sobre as tarifas, de acordo com Neils Rasmussen, analista-chefe de transporte marítimo do Baltic and International Maritime Council (BIMCO) (Conselho Marítimo Báltico e Internacional).
As reservas caíram dois terços desde 5 de abril. Navios porta-contêineres e transportadores de veículos também estão sofrendo com a entrada em vigor das tarifas dos EUA. Operadores de transporte marítimo continuam a restringir a capacidade para os EUA em meio a temores de novas quedas nos volumes e as taxas de frete, de acordo com observadores marítimos.
Regras Propostas para o Transporte Marítimo Ameaçam o Setor de Biocombustíveis
O setor de etanol dos EUA e outros interesses comerciais de biocombustíveis estão cada vez mais preocupados com o impacto das tarifas sobre o transporte marítimo. Regras recentemente propostas, visando combater os esforços da China para dominar o transporte marítimo global, geraram alertas em todo o setor.
Em abril de 2024, o Representante Comercial dos EUA (USTR) iniciou uma investigação sobre as práticas da China nos setores marítimo, logístico e de construção naval. O USTR concluiu que os esforços da China para manter uma vantagem competitiva nesses três setores eram “irracionais” e que “sobrecarregavam ou restringiam o comércio com os EUA”.
Em resposta, o USTR propôs novas taxas que aumentariam o custo do transporte marítimo de mercadorias dos EUA por navios chineses. Além disso, a proposta inclui novas restrições que efetivamente obrigariam todas as exportações dos EUA a serem embarcadas em navios com bandeira americana e construídos nos EUA, com apenas exceções limitadas.

“As taxas e os custos observados para o cumprimento dos requisitos propostos para o uso de embarcações com bandeira e operação dos EUA serão significativos e resultarão em preços mais altos e menos competitivos e na diminuição da demanda por exportações dos EUA, ao mesmo tempo em que aumentarão o preço dos insumos importados para a produção de etanol”, disse Chris Bliley, Vice-Presidente Sênior de Assuntos Regulatórios da Growth Energy, em comentários enviados. “Isso afetará as cadeias de fornecimento doméstico e aumentará a consolidação portuária, o congestionamento, os custos, outros requisitos de conformidade e o tempo de liberação pela alfândega, o que aumentará o ônus e o custo de produção e exportação de etanol dos EUA”.
“Alguns dos nossos membros já estão enfrentando a relutância dos transportadores em realizar transações futuras sem assumir o risco associado a esta proposta”, disse Bliley. Ao mesmo tempo, outros países estão tomando medidas para reduzir os custos do comércio e expandir suas exportações de etanol. Mais notavelmente, o Brasil está atualmente buscando um acordo comercial com a UE que daria ao seu setor de etanol maior e mais fácil acesso a esse mercado”.
Restrições Comerciais Podem Interromper o Fluxo de Exportações Entre EUA e China
Rasmussen, do BIMCO, afirmou que, em 2024, a China era o terceiro maior destinatário das exportações dos EUA, representando 7% do total em ternos de valor. Ele explicou que produtos químicos, produtos de informática e eletrônicos, produtos agrícolas, equipamentos de transporte e petróleo e gás representavam 67% do valor dessas exportações para a China.

Ele também destacou que essa dinâmica comercial poderia ser impactada de forma negativa pelas tarifas dos EUA, o que prejudicaria ambas as economias e potencialmente desaceleraria o crescimento econômico. Especificamente, ele observou que o setor agrícola dos EUA seria significativamente afetado, visto que exportou USD 18,2 bilhões em mercadorias para a China, o que representa 23% das exportações agrícolas dos EUA.
Rasmussen também previu que o mercado de granéis sólidos, particularmente os segmentos Panamax e Supramax, sofreria um impacto negativo das tarifas. Ele afirmou que, em termos de volume, grãos, carvão e coque de petróleo eram as principais commodities exportadas.
Como essas cargas ficaram mais caras devido às tarifas, ele espera que a China aumente as importações de outros países, como Brasil, Ucrânia, Indonésia, Rússia, Austrália e Mongólia. Ele acrescentou que os exportadores americanos podem buscar mercados alternativos para seus produtos como um resultado.
Em relação ao comércio de petroleiros, Rasmussen sugeriu que este poderia não ser muito afetado pelos aumentos tarifários. Ele observou que a China poderia recorrer à OPEP e ao Brasil para substituir o petróleo que vinha comprando dos EUA, enquanto os EUA também poderiam conseguir encontrar outros compradores para suas exportações de petróleo.
As exportações de etanol dos EUA bateram recorde em 2024, com o transporte de 1,9 bilhão de galões, no valor de USD 4,3 bilhões. Durante o mesmo período, o setor de etanol dos EUA manteve um superávit comercial de USD 3,9 bilhões.

Fonte: RFA
“Como resultado do potencial dano ao setor de etanol dos EUA, solicitamos ao USTR que removesse as taxas e restrições propostas aos serviços”, disse Bliley. “Essas novas exigências causariam uma reviravolta significativa que os produtores americanos dificilmente poderiam arcar”.