Pontos Principais

As tarifas de Trump devem remodelar o comércio global. Embora as taxas sobre produtos canadenses e mexicanos tenham sido adiadas, as tarifas de importação sobre a China entraram em vigor, provocando retaliações. Mas, no Brasil, o agronegócio pode acessar novas oportunidades.

Nova Política Comercial Americana Pode Trazer Oportunidades

Donald Trump anunciou tarifas de 10% sobre as importações chinesas, o que marca o recomeço da guerra comercial que teve início durante o seu primeiro mandato. O presidente dos EUA também ameaçou impor tarifas de 25% sobre produtos mexicanos e canadenses, mas suspendeu a medida. A União Europeia também entrou na mira.

É inegável que o comércio global será remodelado por essas políticas – quer elas entrem em vigor ou não. No rescaldo das eleições do ano passado, as taxas de frete para as principais rotas Xangai-Nova York e Xangai-Los Angeles dispararam, refletindo o movimento dos importadores americanos em antecipar os novos pacotes tarifários.

Fonte: Drewry

Embora a mudança venha acompanhada de enorme incerteza, pode haver oportunidades para outros países, como o Brasil. Um bom exemplo é o mercado de grãos. O país compete com os EUA para satisfazer a grande procura chinesa por soja, e a balança provavelmente oscilará a favor do Brasil.

Além da soja, produtores brasileiros de carne bovina e suco de laranja também poderiam se beneficiar da nova política.

1. A Vantagem do Brasil na Soja

Em meio à guerra comercial crescente entre Washington e Pequim, a expectativa inicial é que os importadores chineses comprem mais soja do Brasil do que dos EUA.

Na última década, as exportações brasileiras de soja para a China duplicaram – um crescimento atribuído não só ao aumento natural da procura na China, mas também aos efeitos da guerra comercial durante o primeiro mandato do presidente Trump.

Fonte: Comex e USDA.

Em geral, os embarques para a China tendem a diminuir apenas em contextos especiais, como quebras de safras no Brasil e reduções de preços, como foi observado em 2024. Hoje, 70% da soja exportada pelo Brasil segue para a China.

Fonte: Comex

Espera-se uma colheita recorde de soja no Brasil neste ano, com a CONAB estimando uma produção de 166,3 milhões de toneladas (um aumento de 15,4% em relação a 2024). O maior apetite da China pelos grãos brasileiros poderá levar a um novo aumento nas exportações.

Fonte: CONAB

Os produtores, no entanto, ressaltam que ainda é cedo para qualquer tipo de conclusão. Afinal, não há garantia de que os EUA e a China não irão negociar.

2. A Carne Brasileira Pode Vencer

Qualquer potencial movimentação nas tarifas EUA-Canadá ou EUA-México pode ser favorável para a indústria de carne no Brasil. “Parece haver um desejo dos EUA de renegociar o acordo de livre comércio com o México e o Canadá, o que poderá levar a impostos de importação mais elevados para alguns produtos”, diz Celso Figueiredo, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas e sócio do Barral Parente Pinheiro Advogados.

No âmbito do acordo de livre comércio EUA-México-Canadá, não existem atualmente tarifas sobre importações de carne do Canadá ou do México.

O Canadá responde por quase 30% das importações de carne bovina feitas pelos EUA e, por isso, haver uma oportunidade para o Brasil aumentar os embarques caso haja algum desequilíbrio nas relações comerciais entre os países da América do Norte.

Hoje, os EUA representam o segundo maior destino das exportações brasileiras de carne bovina. Só no ano passado, as vendas para o país geraram USD 943 milhões, 103% a mais que em 2023.

Fonte: Comex

Nas atuais circunstâncias, o Brasil, por enquanto, não se sente desconfortável – algo que grandes empresas do setor de carnes vêm enfatizando.

Os exportadores brasileiros de carne já pagam uma tarifa de cerca de 25% para que o produto entre nos Estados Unidos. Além disso, os EUA enfrentam um ciclo pecuário desafiador, com reservas de carne reduzidas. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), o país precisa de um parceiro comercial confiável no setor. Isso significa que se houver algum desiquilíbrio nas relações com o Canadá, o Brasil poderá sair ganhando.

3. Aumenta a Demanda por Suco de Fruta

O Brasil costuma competir com o México pela posição de maior fornecedor de suco de frutas para os EUA. Só no ano passado, o Brasil vendeu USD 1,19 bilhão do produto para os Estados Unidos, 22% a mais que em 2023.

Fonte: Comex

A demanda pelo produto continua a aumentar. No ano passado, o mercado de sucos de frutas nos EUA gerou USD 23,8 bilhões, um aumento de 16% em relação a 2020, segundo a Mintel. A previsão é que em 2033 o setor gere USD 32 bilhões, 34% a mais que hoje.

Enquanto isso, a oferta nos EUA está caindo. Embora os EUA sejam um dos maiores produtores de suco de laranja do mundo, no ano passado o país enfrentou contratempos, incluindo eventos climáticos e pragas em regiões-chave de cultivo, como a Flórida, que dizimaram a colheita ao longo dos anos.

Fonte: USDA

O mercado brasileiro tenta avaliar se os recentes reveses nas relações comerciais entre o México e os EUA poderiam representar uma oportunidade maior para a exportação do produto. Até lá, o agronegócio e outros setores da economia permanecem atentos a quaisquer sinais do governo americano sobre novos aumentos de impostos e a relação com o Brasil.

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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