Pontos Principais 

O Brasil está investindo cada vez mais em legislação relacionada à sustentabilidade. Os mecanismos de financiamento público do agronegócio podem não apenas tornar o campo brasileiro mais sustentável, mas também tornar o Brasil mais competitivo no comércio internacional. 

Financiamento Agrícola e Legislação Impulsionam Bioconservação 

Neste ano, o Plano Safra, mecanismo público de financiamento do agronegócio brasileiro, chegou com novidades. O programa 2024/2025 cresceu em recursos, totalizando R$ 400,59 bilhões em financiamento (10% a mais que no ano anterior). 

Uma das principais características do programa é oferecer crédito aos agricultores a taxas de juros entre 7% e 12%. Em comparação, as taxas bancárias normais estão em torno de 12,75%. A expectativa é que o Plano Safra apoie 35% da produção agrícola do Brasil e cerca de 2 milhões de empregos diretos. 

Colheita de castanha. Foto: iStock. 

Criado em 2003 para apoiar o desenvolvimento do agronegócio, o Plano Safra oferece taxas de juros mais atraentes para grandes e pequenos produtores, além de contemplar cooperativas agrícolas e agricultores familiares. Há linhas de crédito específicas para modernização de equipamentos e investimentos em tecnologia e conservação de recursos naturais.  

Nos últimos dez anos, os recursos liberados pelo Plano Safra totalizaram quase R$ 3 trilhões. Hoje, o programa responde por cerca de 30% de todos os valores destinados ao financiamento do agronegócio – o restante vem de bancos privados e de recursos próprios dos produtores rurais. Considerando que o agronegócio é responsável por um quarto do PIB brasileiro, a concessão de crédito público é mais do que bem-vinda. 

Fonte: Ministério da Agricultura. 

Mas não é apenas a legislação ambiental ou o acesso ao crédito que tem motivado o Brasil a seguir o caminho da sustentabilidade. As demandas do mercado e avanços como a Lei do Combustível do Futuro, que incentiva a produção de biodiesel e outros combustíveis sustentáveis, também desempenham um papel importante neste cenário. 

Soja Ganha mais Sustentabilidade 

Com o aumento do financiamento para práticas sustentáveis, há mais espaço para reduzir as pegadas de carbono das principais culturas brasileiras. Globalmente, há um foco crescente em combustíveis limpos, e o Brasil já produz grande quantidade de biodiesel a partir da soja. 

Fonte: Abiove. 

Com financiamento do Plano Safra e bancos privados, cada vez mais atentos à sustentabilidade, os agricultores brasileiros têm condições de produzir soja com uma pegada de carbono menor. A Embrapa pretende lançar o certificado de soja de baixo carbono até 2026. 

Os critérios do programa, que conta com a participação de empresas como Cargill e Bayer, já estão sendo delineados. Será necessário, por exemplo, utilizar práticas como plantio direto e rotação de culturas. Também será considerada a utilização de fontes de energia limpa para irrigação e tratores movidos a biodiesel. 

Outro ponto fundamental para entender o avanço dos investimentos em sustentabilidade é o aumento da produtividade. Diversas iniciativas, como o plantio direto e o uso de bioinsumos, estão relacionadas à melhoria da saúde do solo, pois favorecem a fixação de nutrientes. Como resultado, o solo produz mais produtos e de melhor qualidade. 

Estas práticas, juntamente com o avanço da mecanização agrícola e de tecnologias de tropicalização das culturas, têm permitido avanços contínuos na produtividade. 

Fonte: Conab. 

Brasil Abraça Sustentabilidade 

Hoje, os produtores rurais brasileiros lideram a utilização de uma série de práticas de sustentabilidade, como mostra uma pesquisa recente da McKinsey. 

Fonte: McKinsey. 

As origens das práticas de sustentabilidade no Brasil remontam à década de 1960, quando o crédito rural público e privado foi estabelecido. A diferença é que, naquela época, a concessão de crédito era mais restrita e incluía poucas linhas de financiamento, tornando-o menos acessível, por exemplo, para agricultores familiares e comunidades agrícolas que ajudam a preservar as florestas. 

De qualquer forma, obedecer ao Código Florestal já era obrigatório para ter acesso ao crédito rural há décadas – a legislação, criada em 1934, evoluiu até estabelecer programas de regularização ambiental e regras mais rígidas para a preservação das florestas nativas. 

Hoje, o descumprimento do Código Florestal ou a prática de infrações ambientais podem resultar em penalidades como detenção penal, multas que podem chegar a R$ 50 milhões e a proibição de continuar a exercer a atividade.  

“Qualquer prática ilegal no campo, como as queimadas, também acarreta restrições no acesso ao crédito e aos seguros, tanto na esfera pública quanto na privada”, explica o advogado Rodrigo Lima, sócio da Agroícone, especializado em sustentabilidade no agronegócio e relações internacionais. 

Desafios 

Agricultores e entidades rurais, no entanto, acreditam que é preciso deixar mais claras as estratégias de sustentabilidade, inclusive para o mercado externo. Organizações como a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) têm promovido missões ao exterior em conjunto com a Associação Brasileira de Promoção de Exportações (APEX).  

Um dos principais objetivos é mostrar as práticas de produção brasileiras e discutir possíveis parcerias comerciais. No Brasil, representantes do setor têm participado de eventos e debates sobre políticas socioambientais e temas relacionados. 

Do lado legislativo, também tem havido esforços para aumentar o nível de punição para infrações ambientais. A intenção é que o país atinja um nível mais elevado de respeito pelas leis e pela bioconservação, com o objetivo de se tornar um líder internacional e posicionar-se melhor no comércio global. 

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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