Pontos Principais
O relatório WASDE de fevereiro destacou as preocupações climáticas na América do Sul. Embora algumas projeções tenham sido reduzidas, a produção total de soja e milho na região permanece em níveis historicamente altos. A situação reflete 2023, quando o Brasil superou uma seca severa para produzir 154,6 milhões de toneladas de soja e estabeleceu um recorde de produção de milho.
Em seu último relatório WASDE, publicado em 11 de fevereiro, o USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) reduziu as estimativas de produção de milho no Brasil para 126 milhões de toneladas em decorrência do ritmo mais lento de plantio do milho Safrinha (milho da segunda safra).

Fonte: USDA
Na Argentina, que está sofrendo os impactos mais severos da seca, a previsão da produção de soja caiu 3 milhões de toneladas, para 49 milhões de toneladas, enquanto a estimativa de milho foi reduzida em 1 milhão de toneladas, para 50 milhões de toneladas. No Paraguai, a previsão da safra de soja também sofreu ajuste para baixo, caindo 500 mil toneladas, para 10,7 milhões de toneladas.

Fonte: USDA
De fato, em toda a América do Sul, a estimativa do USDA para a produção de soja foi revisada para baixo para 229,2 milhões de toneladas, enquanto a estimativa do milho caiu de 178 milhões de toneladas para 176 milhões de toneladas.
Mas, à medida que a colheita da soja diminui, o plantio do milho Safrinha está progredindo. Ainda parece prematuro reduzir de forma significativa as projeções de Safrinha com base apenas em atrasos no plantio, como o USDA fez. Ainda há uma janela para a semeadura até o final de fevereiro, e o trabalho no campo está progredindo em várias regiões.
Também vale a pena observar que, apesar das reduções do USDA, os volumes de produção ainda são considerados historicamente altos. Além disso, há forte interesse especulativo em potenciais perdas de safra na América do Sul, pois isso ajudaria a sustentar os preços do milho em níveis mais altos. No entanto, a perspectiva continua longe de ser definitivamente estabelecida.
A Safra 2022/23 Está se Repetindo?
Os números desta safra não diferem muito dos da safra 2022/23, assim como o padrão climático, já que também houve uma leve influência do fenômeno La Niña naquela época.
A projeção inicial da CONAB para a soja no Rio Grande do Sul foi de 21,61 milhões de toneladas, mas caiu para 13,02 milhões de toneladas. No entanto, essa perda de 8,6 milhões de toneladas foi compensada por chuvas favoráveis em outras regiões do Brasil, garantindo uma produção final de 154,62 milhões de toneladas.
Em 2023, as mesmas chuvas que beneficiaram as plantações do Centro-Oeste também atrasaram a colheita da soja e o plantio do milho Safrinha, a exemplo do que está acontecendo neste ano. No entanto, as condições climáticas favoráveis a partir de maio permitiram uma colheita recorde de milho, que ultrapassou 131 milhões de toneladas em uma área de 22,3 milhões de hectares.

Expandindo a análise para a América do Sul, vale destacar que a safra 2022/23 da Argentina também enfrentou perdas severas. No final de 2022, A BAGE (Bolsa de Grãos de Buenos Aires) projetou 48 milhões de toneladas de soja, enquanto o USDA estimou 49,4 milhões de toneladas. No entanto, as projeções finais despencaram para 21 milhões de toneladas e 25 milhões de toneladas, respectivamente.
Em relação ao milho, as previsões iniciais eram de 50 milhões de toneladas (BAGE) e 55 milhões de toneladas (USDA), mas ambas caíram para 35 milhões de toneladas à medida que a temporada avançou.
Apesar das perdas da Argentina, a produção total da América do Sul ainda atingiu 194 milhões de toneladas de soja e 171 milhões de toneladas de milho, segundo o USDA.
Portanto, mais uma vez, apostar contra a produção de milho do Brasil pode ser prematuro. O país ainda tem potencial para entregar resultados fortes, com os principais desafios permanecendo logísticos, como transporte e armazenagem, que seguem evoluindo lentamente e se tornam mais complexos a cada nova safra.
Ajuste da CONAB Reflete Mudanças Regionais
As estimativas da CONAB indicaram uma ligeira revisão para baixo na produção de soja do Brasil, diminuindo de 166,3 milhões de toneladas para 166,01 milhões de toneladas. Embora esse ajuste possa parecer pequeno, ele reflete mudanças significativas nas projeções regionais.
No Rio Grande do Sul, que foi severamente afetado pela seca, a previsão caiu de 20,34 milhões de toneladas para 18,45 milhões de toneladas, e, no Mato Grosso do Sul, a estimativa foi reduzida de 14,76 milhões de toneladas para 13,53 milhões de toneladas, resultando em uma perda combinada de 3,13 milhões de toneladas nesses dois estados.
Entretanto, essas quedas foram quase totalmente compensadas por ajustes positivos em outros estados: Paraná (+1,03 milhões de toneladas, totalizando 21,77 milhões de toneladas), Mato Grosso (aumento de 955 mil toneladas, atingindo 47,12 milhões de toneladas), São Paulo (aumento de 268 mil toneladas, atingindo 5,02 milhões de toneladas) e Minas Gerais (aumento de 220 mil toneladas, atingindo 8,83 milhões de toneladas), além de aumentos menores em Rondônia, Maranhão, Bahia, Goiás e Santa Catarina.

Fonte: CONAB
No caso do milho, a Bahia foi o único estado a apresentar uma redução significativa, com sua previsão caindo de 3,09 milhões de toneladas para 2,66 milhões de toneladas. Essa perda foi amplamente compensada por aumentos nos estados do sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), onde as estimativas revisadas de produção aumentaram de 21,92 milhões de toneladas para 24,21 milhões de toneladas.
Mato Grosso também teve um aumento significativo de 551 mil toneladas, elevando sua projeção para 46,64 milhões de toneladas. Com isso, a CONAB revisou para cima as estimativas da safra total de milho do Brasil, de 119,55 milhões de toneladas para 122,02 milhões de toneladas. Mesmo com esse ajuste, a projeção continua abaixo da estimativa do USDA e da média das consultorias privadas, que está em torno de 128,5 milhões de toneladas.
