Pontos Principais
Especula-se que o Brasil possa ser um dos grandes vencedores da guerra tarifária. Como grande concorrente dos EUA nas exportações agrícolas, as contra tarifas podem abrir novos mercados para o gigante sul-americano. Ainda assim, considerando que os EUA são um mercado importante para o Brasil, as medidas podem aumentar a pressão inflacionária sobre produtores de alguns setores.
Alguns Produtos Devem Sofrer com Aumento de Tarifas
O setor de petróleo no Brasil respirou aliviado quando o petróleo bruto — a principal exportação para os EUA — foi isento do aumento de tarifas de Trump.

Fonte: Comex
Para outros produtos agrícolas amplamente exportados pelo Brasil, como celulose e carne, a China é o principal destino, o que alivia a pressão diante do novo regime tarifário de Trump. Isso poderia até dar ao Brasil uma vantagem competitiva – especialmente no que diz respeito à soja.
Mas para outros grandes setores do agronegócio brasileiro, o sentimento é bem diferente.
Produtos do agronegócio – dentre um total de 70% das exportações brasileiras para os EUA – pagarão uma tarifa adicional de 10%. Produtos como suco de laranja e café, com grande exposição aos EUA, correm o risco de estar entre os mais impactados.

Fonte: Comex e Ministério de Agricultura.
Anteriormente, grãos de café crus não estavam sujeitos a tarifas de importação nos EUA, enquanto o suco de laranja era taxado em USD 415,86/tonelada de suco concentrado.
Suco de Laranja na Berlinda
No caso do suco de laranja, a indústria já começa a fazer contas para mensurar o impacto sobre a cadeia de produção – hoje, os EUA representam o principal destino das exportações do produto.

Fonte: Comex.
Os impostos de importação sobre suco de laranja devem aumentar acentuadamente, somando-se à alíquota atual de USD 415,86/tonelada. No ano passado, somente o imposto fixo por tonelada custou cerca de USD 85,9 milhões, segundo a CitrusBR, associação dos exportadores de suco de laranja.
Considerando o preço das exportações para os EUA no ano passado, pagar o imposto de 10% resultaria em uma despesa adicional de cerca de USD 100 milhões por ano. Segundo a CitrusBR, os custos adicionais devem ser distribuídos por toda a cadeia de produção e exportação, o que pode ter um efeito inflacionário no Brasil.
O mercado também se preocupa com o acirramento da concorrência com o México, já que o país escapou do aumento tarifário de Trump e possui um acordo comercial favorável com o país, o USMCA. O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja para o mercado americano, seguido pelo México.

Fonte: USDA
Exportadores também discutem um possível redirecionamento das vendas externas, com potencial redução dos embarques para os EUA e uma busca por novos mercados, embora os representantes do setor tenham mantido um tom conciliador.
“As empresas brasileiras continuarão abastecendo o mercado americano com suco de laranja de alta qualidade”, afirmou a CitrusBR em comunicado, acrescentando que “o setor lamenta que a medida tenha sido adotada sem considerar o relacionamento de longo prazo com as empresas americanas”.
Alerta no Mercado de Café
A cadeia de produção e exportação de café também entrou em alerta com as novas tarifas de importação dos EUA. Embora os principais competidores do Brasil no fornecimento de café para os EUA também tenham sido taxados, como a Colômbia (em 10%), os cafeicultores brasileiros vêm demonstrando preocupação com os efeitos das novas tarifas.

Fonte: USDA
Em um cenário de condições climáticas desfavoráveis e quebras de safra, esse é um momento delicado para um aumento de custos. As novas tarifas americanas podem levar os exportadores brasileiros a gastarem mais de USD 200 milhões por ano, considerando as vendas para os EUA no ano passado.
Pelo menos parte dos custos deve ser repassada para a cadeia produtiva, o que pode impactar a rentabilidade. Além disso, a safra 2025/2026 foi revisada para baixo devido a problemas climáticos, como ondas de calor e baixa umidade.
O estado de São Paulo, onde o café arábica é cultivado e representa 70% da safra brasileira do grão, é o mais afetado, o que deve reduzir as estimativas de produção para este ano.

Fonte: CONAB
O estado de São Paulo, onde o café arábica é cultivado e representa 70% da safra brasileira do grão, é o mais afetado, o que deve reduzir as estimativas de produção para este ano.

Fonte: Conab
Em geral, porém, os desafios de produção vêm reduzindo a oferta, o que também se reflete nas exportações. Apesar do aumento nas vendas externas em 2024, impulsionado principalmente pelos embarques para os EUA, que cresceram cerca de 40% em relação a 2023, este ano não deve apresentar um resultado tão significativo.

Fonte: Comex
Governo Adota Via Diplomática
Enquanto isso, o governo vem adotando um tom diplomático em relação às decisões do governo americano. A esperança é que as tarifas possam ser rediscutidas. Nos bastidores, associações de produtores, exportadores e autoridades têm se reunido para discutir estratégias de negociação com o governo americano.
Um dos principais argumentos é que os EUA têm um superávit comercial com o Brasil, embora não seja grande. No ano passado, o Brasil exportou USD 40,3 bilhões em mercadorias para os consumidores americanos, enquanto importou USD 40,6 bilhões, segundo a Comex. As importações são principalmente de produtos de maior valor agregado, como maquinário.

Fonte: Comex
Ainda é cedo para fazer qualquer tipo de previsão sobre o andamento das negociações e as decisões do governo americano. O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, afirmou que o país está em negociações com representantes do governo americano sobre a questão tarifária. Por enquanto, as incertezas permanecem.