Pontos Principais

A ApexBrasil está focada em expandir as exportações brasileiras globalmente. A agência identificou oportunidades para aumentar as exportações de avocado e feijão. Peixes, que bateram recordes de exportação em 2024, também devem ter uma demanda internacional maior.

Brasil Identifica Novas Oportunidades para Exportação de Alimentos

Em 2024, as exportações da agropecuária brasileira somaram cerca de USD 72,5 bilhões, quase o dobro de dez anos atrás, com um impacto significativo na balança comercial. 

Fonte: Comex.

As exportações vêm crescendo não só em função do aumento da produção, de maiores rendimentos das lavouras e da expansão da demanda externa, mas também como resultado de iniciativas que visam identificar novas oportunidades no comércio global de alimentos. 

A ApexBrasil (Agência Brasileira de Exportação e Investimentos), agência pública cujo principal objetivo é promover os produtos brasileiros no exterior e mapear novas oportunidades de exportação, desempenha um papel essencial nesse cenário. Além de realizar estudos de mercado, a agência promove rodadas de negócios no exterior e organiza delegações de empresários brasileiros em feiras internacionais.

“Essas ações serviram para mapear oportunidades significativas para aumentar a exportação de produtos como abacate e feijão”, diz Laudemir Müller, gerente de agronegócios da ApexBrasil, em entrevista ao Czapp. 

Laudemir Müller. Foto: ApexBrasil

Quais são os principais mercados internacionais em que seria interessante aumentar a presença de produtos do agronegócio brasileiro? 

Primeiro, é bom dizer que vivemos um momento de desafios globais. Um desses desafios é a segurança alimentar, que tem a ver com a estabilidade de preços. Outro desafio global é a transição energética e as mudanças climáticas. 

A agricultura brasileira se posiciona como um player que está ajudando o mundo a lidar com esses desafios. O Brasil tem condições de oferecer alimentos ao mesmo tempo em que produz biocombustíveis e faz a captação de carbono. E, claro, estamos olhando para mercados nos quais podemos aumentar nossa presença. 

A maior inserção do gergelim no mercado externo é um bom exemplo da estratégia de buscar novas oportunidades para determinados alimentos?

O gergelim é um exemplo interessante. Abrimos o mercado chinês para o gergelim brasileiro no final do no passado, com a assinatura de protocolos fitossanitários e uma série de compromissos relacionados a controle de qualidade e certificações. 

A China acabou de anunciar os 21 primeiros exportadores brasileiros habilitados a embarcar gergelim para lá. As exportações começaram a ganhar fôlego com a assinatura de protocolos semelhantes com a Índia em 2020.

Fonte: Comex.

Há outros exemplos como o gergelim?

Sim, há muita oportunidade em relação a culturas ricas em proteína de origem vegetal. Há um olhar muito forte para a diversificação do feijão, por exemplo, com o plantio de várias espécies no Brasil. A produção de outros alimentos do grupo dos chamados “pulses”, considerados altamente nutritivos e proteicos, como a ervilha, o grão de bico e a lentilha, também vem crescendo.

E por que isso está acontecendo? 

Tem a ver com uma mudança de hábito de consumo global que está puxando o aumento da demanda por proteína de origem vegetal. Outro motivo é o crescimento de renda da Índia, que possui uma grande população vegetariana. 

A Índia tem uma demanda de cerca de 27 milhões de toneladas por diversos tipos de feijão, lentilha, ervilha e grão de bico. O país estima que no curto prazo haverá uma demanda de 32 milhões de toneladas por ano. 

E há algumas restrições em aumentar a produção interna, por isso as importações são importantes. Hoje, o principal fornecedor de feijão para a Índia é Mianmar, mas o país já enfrenta dificuldades de produção por causa de problemas climáticos. Há uma oportunidade para o Brasil. Aliás, temos exportado mais feijão. 

Fonte: Comex.

No ano passado, a Índia aumentou muito as aquisições de feijão produzido no Brasil, o que colaborou com o aumento das exportações do alimento.

Fonte: Comex.

Com o crescimento econômico da Índia, deverá haver oportunidades de exportação para outros produtos do agronegócio brasileiro? 

Há uma demanda crescente por óleos de cozinha, inclusive o Brasil aumentou as exportações de óleo de soja para a Índia, embora de forma não linear.

Fonte: Comex.

A procura por frutas também está crescendo. É bom lembrar que o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas, mas é só o 24° exportador. Há um forte consumo interno e não exportamos muito.

Por que até hoje o Brasil não conseguiu aumentar muito as exportações de frutas?

Nossas principais frutas exportadas são a uva e a manga, a maior parte produzida no Vale do Rio São Francisco, no Nordeste, por irrigação. No caso da manga, há uma evolução constante nas exportações. Estamos trabalhando para ampliar nossa capacidade de produção.

Fonte: Comex.

Temos milhares de hectares que estão se tornando aptos à produção de fruta na região do semiárido nordestino, onde os canais de irrigação estão chegando. Vamos incluir o mercado externo na nossa estratégia, principalmente em relação à uva e o avocado, para o qual há forte demanda na Ásia e outras regiões. 

Com a guerra tarifária dos Estados Unidos com o México e Canadá, pode haver mais oportunidade de exportação de avocado para os EUA? 

Ainda é cedo para avaliar, mas nosso sentimento inicial é que para o Brasil não interessa a instabilidade. Há anos estamos trabalhando para desenvolver nosso modelo de produção. Apostamos na estabilidade e no trabalho de médio prazo. Mas claro que pode ser que apareçam oportunidades suplementares. Estamos olhando com bastante atenção para o Canadá. No ano passado, promovemos algumas feiras lá e devemos continuar com essa estratégia neste ano. 

Por falar nisso, quais são as principais feiras e missões comerciais programadas para este ano?

Estamos apoiando diretamente 23 setores ligados ao agronegócio, desde café a biscoitos. Vamos levar comitivas para 40 feiras no exterior em parceria com ministérios como o da Agricultura e das Relações Exteriores. 

Algumas das feiras mais importantes acontecem na China, como a Sial Expo, que será realizada em maio, e na Alemanha. Temos trabalhado também com feiras importantes na América Latina, como a Expoalimentaria Peru, e no México. 

Nesses eventos e em estudos de mercado que vocês realizam, quais têm sido as principais oportunidades identificadas, além do feijão e avocado? 

Um ótimo exemplo é o peixe, principalmente a tilápia, que é produzida em tanques, em ambientes controlados. Em relação a proteínas de origem animal, o Brasil participa com quase 40% de share do mercado mundial de frango. Em relação à carne bovina, é cerca de 20%.

Mas com os peixes, é praticamente zero. Se dobrarmos a exportação, vamos ter um share de mercado de 0,5%. Trata-se de um mercado global de USD 148 bilhões. Participamos com menos de USD 200 milhões. É muito pouco. 

Temos boa oferta de água, um bom sistema de ração e uma genética interessante. A produção já começou a crescer, as exportações estão aumentando e a tendência é continuar crescendo. 

Fonte: Comex.

De modo geral, o que a gente vem trabalhando muito, em relação a todo o nosso agronegócio, é que o Brasil tem uma grande oportunidade em contribuir com a segurança alimentar e questões relacionadas às mudanças climáticas. Veja o que está acontecendo com a produção global de cacau e café, que está sendo afetada pelo clima. Há uma preocupação em relação a isso e o Brasil tem se posicionado de forma madura. Podemos ofertar alimentos ao mesmo tempo em que colaboramos com a questão da sustentabilidade.

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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