Pontos Principais
País pretende produzir 400 mil toneladas de cacau em 2030, 46% a mais do que o volume atual. Alta dos preços no mercado internacional vêm motivando produtores.
Brasil lança diretrizes para aumentar a produção de cacau.
Produzir cacau (e em grande quantidade) não é novidade para o Brasil. No início do século 20, o país liderou a produção e a exportação mundial da commodity. Nas últimas décadas, no entanto, problemas como pragas e oscilações nos preços internacionais impactaram os agricultores, derrubando a produção.
Agora, depois de aumentar os investimentos em produtividade e erradicar doenças como a vassoura-de-bruxa, que prejudicou as lavouras nos anos 80, o país vem turbinando o plantio. A ideia é voltar a ocupar um lugar de destaque na produção global e nos embarques de cacau.
Fonte: IBGE
A produtividade também está aumentando, o que tem animado os agricultores. E há espaço para crescer mais. “É possível atingir mil quilos por hectare, que é considerado mais próximo do ideal, com boas práticas agrícolas”, diz Ricardo Gomes, produtor de cacau na Bahia e gerente de Desenvolvimento Territorial do Instituto Arapyaú, voltado à promoção da sustentabilidade no campo.
Fonte: IBGE
Em locais como o Oeste da Bahia, a produtividade já passa de mil quilos por hectare. Grandes empresas do setor vêm investindo pesado para conquistar esse resultado. A Cargill e a Schimidt Agrícola são um bom exemplo. Há alguns anos, as duas empresas se uniram para cultivar cacau no oeste baiano, em uma área irrigada pelas águas do Rio São Francisco, e vêm atingindo altos níveis de rendimento.
Mercado externo
Com o mercado em alta e o crescimento do plantio, o Brasil pretende se tornar autossuficiente na produção de cacau e retomar as exportações. “Hoje, a indústria precisa importar, em média, 40 mil toneladas de cacau por ano para atender o mercado interno, mas até 2030 devemos mudar esse jogo”, diz Ana Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
O país lançou um plano, elaborado por produtores rurais e o governo, para produzir 400 mil toneladas da commodity em 2030 e se posicionar como um fornecedor global sustentável. O programa inclui desde a ampliação da assistência técnica aos produtores à renovação de parte dos cacaueiros e incentivos à adoção de selos de sustentabilidade.
Para chegar lá, aumentar a produtividade será essencial.
Essa trajetória não está livre de desafios. Um dos principais é o acesso ao crédito. Pequenos e médios agricultores, que formam boa parte dos produtores de cacau no Brasil, enfrentam mais barreiras para obter financiamento por questões que maior dificuldade para contratar seguro rural a pendências de regularização ambiental. Instituições como o Banco Mundial tem auxiliado produtores familiares a se registrar em programas como o Cadastro Ambiental Rural (CRA), mas ainda é preciso avançar mais.
Outro ponto importante diz respeito a selos de sustentabilidade. A ideia é aumentar a oferta de certificações, hoje consideradas restritas. Em junho, o governo lançou os selos “Cacau Cabruca”, para lavouras da Bahia, e “Cacau Amazônia”, voltado aos produtores do Pará – hoje, os dois Estados representam 90% da produção brasileira. A intenção é pavimentar o caminho não só para produzir de forma mais sustentável, mas também para exportar com um prêmio.
A expectativa é que o Brasil possa exportar ao menos 20% de sua produção até o final da década, o que poderia ajudar a aliviar a crise global no fornecimento de cacau.
“A meta de cultivar 400 mil toneladas em 2030 é até conservadora diante da evolução observada nos últimos anos e o potencial do país”, acredita Ana Paula.
Hoje, se o Brasil produzisse 400 mil toneladas, cerca de 100 mil poderiam ser exportadas.