Pontos Principais

  • Com uma oferta que não tem acompanhado a demanda, há um risco de desabastecimento de gasolina.
  • Margens de importação negativas não incentivam uma solução rápida.
  • Como resultado, alta de preços na gasolina algo que o governo não quer – como bônus, o etanol é beneficiado.

Um Pouco de Contexto, Se Você Não tem Acompanhado as Manchetes

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  • Essa semana a Brasilcom, Associação das Distribuidoras de Combustíveis, chamou atenção para um risco de desabastecimento de combustíveis agora em novembro.
  • Segundo a associação, a Petrobras teria cancelado os pedidos de gasolina e diesel por não ter produto suficiente.
  • Fontes próximas dizem que o principal impacto é visto nos pedidos de diesel – algo preocupante para a cadeia logística e agrícola, em especial para a soja dado que seu plantio será realizado nos próximos meses.
  • Mas neste relatório vamos focar nos impactos para a gasolina e o resultado para etanol.

  

Migração da Demanda para Gasolina

  • A demanda de gasolina tem subido por dois fatores:
    • Relaxamento das restrições da pandemia, o que resulta em maior mobilidade da população.
    • Ganhando espaço frente ao etanol na preferência dos consumidores.
  • Com a paridade de preços nas bombas (razão preço de etanol/gasolina) nos patamares mais altos da década (78%), o consumidor migrou mais rapidamente para gasolina.
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  • Com isso, o market share do hidratado caiu para 25% em setembro – o patamar mais baixo desde 2016.
  • As declarações recentes da Brasilcom a respeito do cancelamento de pedidos de combustíveis feitos para novembro nos levam a crer que o mercado enxerga uma migração ainda maior para gasolina.
  • Ou que eles estão muito otimistas em relação a demanda para os próximos meses…
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Demanda Não Vai Ceder Sozinha

  • Teoricamente, preços altos podem resultar em destruição de demanda.
  • O problema é que chegamos em um patamar mínimo de consumo, as pessoas estão circulando, o trabalho presencial voltou em muitos casos, e à medida que a vacinação avança o dia-a-dia vai retornando ao mínimo normal.
  • Além disso, temos a sazonalidade das férias.
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  • E neste ano, com o Real desvalorizado, as viagens ao exterior tornam-se custosas o que faz as pessoas viajarem mais pelo Brasil de carro ou ônibus.
  • Geralmente o consumo de combustíveis em dezembro cresce 15% em relação à média do ano, por causa do período de festas e férias.
  • O consumo não está fora do normal, parece que é a oferta que não está dando conta de acompanhar o consumo – vide a próxima sessão.
  • Então o resultado é:
    • Os preços têm que subir ainda mais para frear o consumo e evitar um desabastecimento.
    • Ou importações a prejuízo serão feitas para abastecer o mercado interno.

  

Como Chegamos neste Ponto?

  • A produção nacional de gasolina está dentro da média dos últimos 3 anos – dados de Jan a Agosto.
  • Vamos ignorar 2020, ano de pandemia e que representa uma anomalia estatística.
  • Nada fora do normal, exceto um pequeno detalhe.
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  • Como mencionamos no início do relatório (vide Market Share de Hidratado), nos últimos 3 anos os consumidores preferiram etanol ao invés da gasolina.
  • A partir de maio deste ano houve uma mudança na preferência, consumidores migrando para a gasolina.
  • Uma oferta maior seria necessária, mas a produção interna demorou a reagir.
  • A solução imediata seria fechar o buraco via importações.
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  • O problema é que as importações de gasolina registradas até agosto foram as menores desde 2011.
  • E o mais interessante é que se olharmos os dados de participação dos players nas importações, a Petrobras esteve bem mais ativa que nos últimos anos.
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  • O motivo é bem simples.
  • Com a pressão enfrentada pelo Petrobras por conta dos preços de combustíveis, os reajustes dos valores na refinaria têm sido bem menos frequentes.
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  • E com isso, a paridade de preços tem ficado abaixo do mercado internacional.
  • Dada a continua alta do petróleo e a desvalorização cambial, a gasolina teria que ser reajustada dos atuais R$3 para R$3,5.
  • O ambiente não é favorável a outros participantes do mercado.
  • Sem uma política de preços mais clara, a única que deve importar a prejuízo deve ser a estatal.

  

Vai Subir de um Jeito ou de Outro

  • Se a Petrobras de fato ainda tem autonomia, mais um reajuste de preços deve estar no horizonte.
  • Aliás, se a situação fiscal do país continuar a piorar, impactando ainda mais o câmbio, há mais riscos para ainda mais ajustes.
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  • Sem reajustes, necessários para tornar as importações viáveis, o risco de desabastecimento aumenta. E pela lei da oferta e demanda, os preços serão reajustados nos postos de qualquer maneira.
  • Uma última opção seria a importação mesmo a prejuízo por outros participantes de mercado, que iriam repassar o custo aos consumidores e ultimamente causando um aumento de preços na ponta final.
  • Aumento de preços da gasolina, positivo para os retornos de etanol.
  • Uma curva acentuada de preços para entressafra já era esperada, devido aos baixos estoques de etanol.
  • Mas com mais esse fator da gasolina, a tendencia deve ser preços de etanol ainda mais altos.
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Ana Zancaner

Ana graduated from Insper University Sao Paulo in 2013, with a bachelor’s degree in business administration. She joined CZ as an intern in 2013 and is now our senior analyst in our Sao Paulo office. At CZ she is responsible mainly for analysis of the Brazilian sugar and ethanol sector but supporting other consulting requests as well.

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