Pontos Principais
As chuvas atingiram as lavouras do Rio Grande do Sul, um dos grandes polos agronômicos do Brasil. As maiores perdas na agricultura serão para a soja, mas os danos às infraestruturas terão impacto em todo o sector.
Chuvas Tomam Conta Do Estado
O início de maio foi turbulento para o Rio Grande do Sul. Durante os primeiros dias do mês as tempestades rapidamente se transformaram em inundações. Até o momento, cerca de 446 cidades foram afetadas – mais de 90% das cidades do estado – algumas delas completamente imersas em água. Algumas áreas receberam mais de 600 mm em 1 semana.
Fonte: BBC
Esta é a terceira enchente registrada no estado em menos de um ano – e a maior da história. Em 2023, o Rio Grande do Sul sofreu outras duas enchentes, sendo a de setembro a maior, causada por um ciclone extratropical, com tempestades massivas, concentradas e rápidas.
Mas Não Apenas As Regiões Urbanas Foram Afetadas
O Rio Grande do Sul é um forte polo da agricultura nacional, com quase 13% do seu PIB e 67% das exportações do estado representadas por atividades agrícolas. O Estado tem participação significativa na produção de soja, arroz, trigo, milho, pecuária etc.
Fonte: IBGE
Na pecuária, o estado se destaca principalmente com frangos e suínos, sendo o 3º maior frigorífico do país, além de estar entre os 5 maiores produtores de ovos e leite.
Em 2023, as chuvas caíram na época de plantio da soja e muitos produtores tiveram que adiar os trabalhos. Alguns precisaram replantar a soja, atrasando a colheita. Segundo a CONAB, 60% da soja já estava colhida no início das chuvas quando se interrompeu as operações. Apesar disso, os produtos que já haviam sido colhidos e armazenados também devem ser impactados.
Além disso, os campos alagados impossibilitaram a entrada de máquinas para a colheita. Muitos produtores perderam toda a soja restante nos campos devido ao apodrecimento dos grãos, e a soja que conseguiu ser “salva” terá descontos de qualidade.
Como mencionamos no relatório da colheita de milho , os maiores danos deverão ser observados nas áreas de soja. Quando as chuvas começaram, cerca de 6 milhões de toneladas de soja ainda estavam por colher nos campos devido ao atraso na colheita nesta época.
Para acompanhar o clima nas plantações de grãos, visite: Relatório meteorológico do aplicativo CZ
Mas Qual O Impacto Real?
Para o agronegócio, o maior impacto será na infraestrutura. As inundações não só destruíram as colheitas, mas também armazéns, maquinaria, gado e danificaram estradas. No momento, muitas vias de transporte estão bloqueadas devido aos danos, impossibilitando a movimentação de insumos, alimentos, animais e dificultando a chegada dos produtos ao porto de Rio Grande – o 4º maior porto exportador de soja do Brasil.
Para ver mais informações sobre o line-up de grãos nos portos, acesse: Exportações brasileiras de grãos
Atualmente, não há estimativas de quando a situação voltará ao normal e muito menos do tamanho exato dos prejuízos causados.
Segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), os prejuízos na agricultura já chegam a R$ 2 bilhões, enquanto na pecuária os prejuízos chegam a R$ 220 milhões. Apesar disso, muitos municípios ainda não reportaram suas perdas à CNM, o que indica que o número ainda deve aumentar à medida que mais municípios preencherem as informações no sistema.
Apesar da situação, o porto de Rio Grande continua operando normalmente, não tendo sido afetado pela elevação do nível das águas, apenas com menor volume de produtos.
Para a colheita de grãos, as estimativas apontam que 1,5 milhão de toneladas de soja foram perdidas completamente – quase 4x mais que as 400 mil toneladas de milho. Assim, a produção gaúcha, que poderia ter sido de 20,9 milhões de toneladas de soja (7 milhões de toneladas a mais que na safra passada), deverá ser reduzida para 19,4 milhões de toneladas.
Esse número ainda pode sofrer alterações devido às perdas por apodrecimento dos grãos, mas acreditamos que veremos com mais clareza o real impacto da enchente na próxima safra. Com a degradação do solo, perdas de máquinas e estruturas como silos e armazéns, os produtores rurais gaúchos deverão sofrer com maiores custos para a próxima safra, além da produtividade que será afetada pela qualidade do solo, reduzindo sua margem de lucro.