Pontos Principais
- Brasil abre novos mercados para produtos do agronegócio com foco em sustentabilidade.
- País tem desafio de atender demanda global de sustentabilidade na exportação de alimentos.
- Intenção é aumentar exportações de produtos como o algodão, cafés especiais e frutas.
Em um momento crucial para a sustentabilidade global, o Brasil se encontra no centro das atenções, buscando equilibrar o crescimento da agropecuária com a agenda ESG. Em entrevista exclusiva ao Czapp, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), Jorge Viana, discute estratégias para abrir novos mercados para o agronegócio brasileiro e os desafios de adequar o país às demandas globais de sustentabilidade.
Jorge Viana, presidente da ApexBrasil. Crédito: divulgação/ApexBrasil.
De que modo o Brasil pode conectar a pauta de exportações à agenda ESG?
A agenda ESG tem sido estratégica para o mundo todo e para o Brasil. Todos na ApexBrasil sabem que é nosso trabalho promover a marca Brasil mundo afora, levando em conta a preocupação ambiental. Essa mensagem está correndo o mundo.
O Brasil é uma potência verde e tem muito potencial para se desenvolver com sustentabilidade. É preciso assimilar e colocar em prática que é possível reduzir o desmatamento e aumentar a produção. Temos o maior potencial do planeta para atrair investimentos em energia renovável, por exemplo.
Vale lembrar também que antes os compradores buscavam produção em grande escala e com menor preço. Hoje, já priorizam quem produz de forma sustentável.
Há, claro, muita coisa que o Brasil pode e deve fazer para entrar em consonância com os critérios ESG. Estamos no caminho certo, buscando aprimorar cada vez mais iniciativas para que o país incorpore essas práticas e assuma o protagonismo mundial nesse cenário.
Na Europa, EUA e outros países, a agenda ESG no agronegócio vem ganhando força, inclusive por meio de normas como a nova lei europeia de importação de alimentos. O que as exportações brasileiras têm a ganhar com um reforço na sustentabilidade?
Tudo. É uma mudança de paradigma, em alguns casos de práticas e, por fim, de imagem, negócios e lucro. Uma pesquisa da própria ApexBrasil de 2022 mostrou que 81% do parlamento europeu tinha uma imagem negativa do agronegócio brasileiro. Estamos voltando a ser vistos como um país consciente de sua responsabilidade global, que trabalha para reduzir o impacto das mudanças climáticas.
Vale lembrar que a ApexBrasil é uma grande aliada do agronegócio, principal responsável pelo aumento de nossas exportações. Em 2023, a gerência de agronegócio da agência apoiou mais de 2,5 mil empresas, das quais 983 exportaram, atingindo um valor de vendas de US$ 89,3 bilhões. No ano passado, junto com entidades parceiras, executamos 22 projetos setoriais ligados ao agronegócio, todos com os pilares ESG.
Um bom exemplo é a parceria com Associação Brasileira dos Produtores de Algodão para ações de promoção e missões comerciais no exterior com foco em sustentabilidade, em locais como a Indonésia e Bangladesh, dois grandes mercados de algodão.
Fonte: Conab.
Há outras parcerias que englobam setores como cafés especiais, pecuária, algodão, vinhos, sucos e frutas, além de soluções-chave no processo de transição energética, como o etanol. Para 2024, a nossa expectativa é de fechar mais cinco parcerias com entidades do agronegócio, como associações de produtores, resultando em 27 projetos setoriais e mais de US$ 92 bilhões em exportações.
A partir desses projetos, R$ 240 milhões serão destinados a ações voltadas ao agro, dos quais R$ 150 milhões serão aportados pela ApexBrasil. São projetos que seguirão diretrizes de sustentabilidade, equidade de gênero, regionalização e imagem. A ApexBrasil pretende, ainda, apoiar 2254 empreendedores, produtores e cooperativados brasileiros do agronegócio que desejem entrar no mercado internacional, por meio de capacitações, seminários, fóruns e mesas-redondas voltadas à exportação.
Fonte: MAPA – Agrostat
Em 2023, as exportações brasileiras do agronegócio atingiram o recorde de US$ 166,55 bilhões, representando quase metade de toda a pauta exportadora brasileira. A força propulsora do agronegócio conquistou, em 2023, 78 novos mercados em 39 países. E só nesses dois primeiros meses do ano foram 16 novos mercados, totalizando 94 mercados em 47 países.
Abrimos o mercado de gelatina para os Estados Unidos, alevinos de tilápia para as Filipinas, bovinos para o Paquistão, açaí em pó para a Índia, pescados para a Austrália, entre outros. Tudo indica que estamos caminhando na direção certa.
Como estão as conversas com a Arábia Saudita e outros países do Oriente Médio para ampliar a pauta de exportações e investimentos diretos no Brasil?
A Arábia Saudita é um país estratégico no esforço de aprofundamento das relações com o Oriente Médio. É o maior parceiro comercial do Brasil na região, tendo o fluxo comercial ultrapassado US$ 8 bilhões em 2022. Isso é fruto de relações diplomáticas que remontam a 1968.
Fonte: Comex.
Mas, apesar do fluxo comercial significativo, há largo potencial para o incremento das relações econômicas, principalmente no campo de investimentos. A entrada da Arábia Saudita no BRICS e os investimentos do governo saudita previstos no Plano Visão 2030 deverão criar oportunidades que impactarão a expansão da economia.
Fonte: Banco Mundial
Estamos falando de um país que tem um dos maiores fundos soberanos do mundo, de mais de US$ 850 bilhões.
Em dezembro do ano passado, aproveitando a missão presidencial do presidente ao Oriente Médio para participar da COP 28, em Dubai, a ApexBrasil realizou o Fórum Empresarial Arábia Saudita-Brasil, que recebeu uma delegação composta por 250 executivos e autoridades de governo, tanto brasileiros como sauditas.
Todo mundo saiu de lá com a certeza de que as relações comerciais vão se abrir e se intensificar. Vemos muitas possibilidades na área de agricultura, em que o Brasil já é muito consolidado, no sentido de abertura de novos mercados e incremento das relações comerciais, mas também na área de logística e tecnologia.
Como estão os programas para promover a bioeconomia brasileira?
A gente sabe do potencial da capacidade da bioeconomia da Amazônia, onde você pode, além de produzir e exportar, ajudar a manter a floresta de pé.
Os produtos compatíveis com a floresta Amazônica, como o açaí, representam um mercado de cerca de US$ 200 bilhões no mundo. No entanto, apesar de abrigar 30% das florestas tropicais do planeta, a região Norte contribui com menos de 0,2% das exportações globais desses bens.
Existe um programa para incentivar as exportações sustentáveis da Amazônia, não?
Sim. O Exporta Mais Amazônia é um programa que lançamos em 2023 com o objetivo de promover e criar mais espaço para os produtos em consonância com a floresta. Desde o lançamento do programa, em novembro, a gente vem preparando empresas e cooperativas da região amazônica para ampliar a presença no mercado internacional.
Já fizemos rodadas de negócios com empresas de setores como o de açaí, cacau, chocolate, castanha-do-brasil e peixes amazônicos para aumentar a oferta exportadora.
Outro programa que lançamos em 2023 e que também trabalha em favor do país, em particular do Norte e Nordeste, é o Exporta Mais Brasil. No ano passado fizemos 13 rodadas do programa, em 13 diferentes estados, promovendo diferentes setores da economia. Em cada uma das rodadas, foi dada atenção especial às empresas das regiões Norte e Nordeste, bem como àquelas lideradas por mulheres.
Fizemos rodadas de móveis na Paraíba, de frutas em Pernambuco e vários outros setores em diferentes estados. Foram R$ 275 milhões em negócios gerados.
Vale lembrar que o foco em sustentabilidade e no desenvolvimento regional tem tudo a ver com a agenda ESG na qual estamos investindo. Estamos falando de uma mudança de paradigma. Como falei, o Brasil é uma potência verde e estamos trabalhando fortemente para sermos vistos como um país consciente de sua responsabilidade ambiental, que entende a gravidade das mudanças climáticas e trabalha para reduzir o seu impacto, enfrentando o desafio da descarbonização.