Pontos Principais
A decisão da CONAB de manter as estimativas de produção de milho surpreendeu a indústria. No entanto, os números da CONAB podem ser conservadores do lado da oferta e um tanto otimistas da perspectiva da demanda.
A Pior Safra de Verão dos Últimos 6 Anos
A Agência Nacional de Agricultura (CONAB) manteve sua estimativa para a safra brasileira de milho, agora projetada em 115,65 milhões de toneladas, ante 115,86 milhões de toneladas no relatório de julho.
A redução na produção total foi causada principalmente por uma revisão significativa da primeira safra (verão). A produção foi ajustada de 23,44 milhões de toneladas para 22,96 milhões de toneladas, tornando-a a menor dos últimos seis anos.
Mato Grosso e Goiás compensam
Para a segunda safra (Safrinha), reduções significativas em estados-chave como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul foram compensadas por aumentos em Mato Grosso e Goiás. A produção nesses estados foi elevada para 47,82 milhões de toneladas e 9,54 milhões de toneladas, respectivamente. Com isso, a projeção para a Safrinha foi ajustada para 90,28 milhões de toneladas, ante 90 milhões de toneladas previstas no relatório de julho.
Estoques Finais Reduzidos
Embora as mudanças nos números da oferta total tenham sido sutis, do lado da demanda, as variações são notáveis, especialmente no que diz respeito às exportações. A CONAB elevou a projeção de 33,5 milhões de toneladas em julho para 36 milhões de toneladas no último relatório, o que é surpreendente dado que o ritmo das exportações nesta temporada ainda é lento.
Até a terceira semana de agosto, apenas 10,26 milhões de toneladas foram exportadas, bem abaixo dos números do ano passado e da média histórica de cinco anos.
Embora o milho destinado à ração nacional tenha permanecido praticamente estável na comparação mensal, em 84,23 milhões de toneladas em agosto contra 84,26 milhões em julho, a estimativa atual é 5,8% superior às 79,6 milhões de toneladas do ano passado.
No ano passado, a produção atingiu 131,9 milhões de toneladas, 14% acima da previsão para esta temporada.
Analisando o quadro geral, o resultado é estoques finais de 4,97 milhões de toneladas, o menor das últimas safras. Isso apoiou a recuperação dos preços domésticos nas últimas semanas e abre a porta para maior volatilidade. No entanto, essa volatilidade foi contida devido aos altos estoques esperados nos EUA.
Acredito que os números apresentados pela CONAB ainda são excessivamente conservadores do lado da oferta e um tanto otimistas do ponto de vista da demanda. Por exemplo, no relatório WASDE de agosto, o USDA prevê uma produção de 122 milhões de toneladas para o Brasil, enquanto as estimativas de consultorias privadas são em média de 117 milhões de toneladas, mas podem chegar a até 126 milhões de toneladas.
Com a conclusão da colheita da segunda safra em 96%, segundo a CONAB em 18 de agosto, ainda há espaço para ajustes positivos no relatório final desta temporada, a ser divulgado pelo órgão brasileiro em 12 de setembro.
Considerando o ritmo ainda lento para esta época do ano, as duas últimas semanas de agosto e o mês de setembro serão cruciais para definir bons volumes de exportação do milho brasileiro. Caso esses volumes não se concretizem, os preços domésticos poderão ser novamente pressionados para patamares abaixo de R$ 60/saca (com base na cidade de Campinas, SP), aproximando os futuros da B3 dos valores negociados em meados de julho.