Pontos Principais
- A procura global de gergelim está aumentando.
- Os principais países produtores consomem a maior parte da sua produção internamente.
- O Brasil poderia intervir para preencher a lacuna sacrificando alguma área de milho?
O apetite por gergelim cresce
A produção global de gergelim expandiu significativamente nos últimos 15 anos, mas o consumo também tem crescido. Na verdade, os aumentos na produção mal acompanharam o crescimento do consumo.
Fonte : FAOSTAT
Cerca de 60 a 65 países produzem estas sementes, dos quais os países asiáticos e africanos são os principais produtores. O principal país produtor é o Sudão, seguido pela Índia, Mianmar, Tanzânia, Nigéria e China.
A maior parte do gergelim colhido pelos principais produtores é utilizada internamente. Na verdade, a China é altamente dependente das importações de gergelim para satisfazer a procura interna.
Fonte : FAOSTAT
Brasil avança
O Brasil, com sua reconhecida produtividade agrícola, tornou-se um fornecedor global, mas ainda é considerado um pequeno produtor.
Fonte : FAOSTAT
No entanto, a produção de gergelim do Brasil deverá atingir 175.800 toneladas em 2023/24 – um aumento de 184% em relação aos níveis de 2021. A produção está fortemente concentrada no estado de Mato Grosso.
Fonte: Conab
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que Mato Grosso produzirá 90,7 mil toneladas de gergelim, sendo 185,5 mil hectares (ha) destinados ao grão. O Pará é o segundo maior produtor, com 60,6 mil toneladas, seguido pelo Tocantins com 23 mil toneladas. A expectativa é que Goiás produza 1.500 toneladas. Essas regiões constituem a maior parte do Cerrado brasileiro – a maior região de savana da América do Sul.
Os relatórios sugerem que a maior parte do volume da safra de 2024 já foi vendida internacionalmente, mas no futuro, a previsão é que o Brasil aumente sua área plantada.
Fonte: Conab
Área de milho em disputa
As plantações de gergelim são relativamente simples de cultivar porque requerem apenas técnicas agrícolas básicas. O valor da semente e do óleo de gergelim também gera mais valor do que outras culturas, o que significa que são uma ótima opção para pequenos e médios agricultores. Outra vantagem é que a semente utiliza menos correção de solo e pode ser produzida entre 90 e 130 dias.
O preço que os agricultores podem obter pelo gergelim depende se a plantação é dedicada ou rotativa, bem como da área em que está situada.
No Brasil, o gergelim ganhou popularidade como substituto do milho na entressafra da soja devido ao seu menor custo de produção. Estes variam de R$ 1.000/ha (US$ 202/ha) a R$ 1.500/ha (303/ha), em oposição aos custos mais elevados de R$ 5.000/ha (US$ 1.011/ha) para o milho.
A rentabilidade da cultura também contribui para o apelo desta oleaginosa. Em média, o produtor colhe 1.400kg/ha a R$ 5,50/kg, obtendo um lucro de R$ 7.700/ha. O preço dos óleos de sementes aumentou exponencialmente nos últimos anos devido, em parte, à guerra na Ucrânia.
No Brasil, houve uma desvalorização da cultura do milho devido aos altos níveis de produção e problemas de armazenamento, que fizeram com que os preços caíssem. Isto poderia criar mais oportunidades para maiores áreas de cultivo de gergelim em áreas fora do Cerrado , que se espalha por uma ampla faixa de estados do centro, norte e leste .
A produção de milho do Brasil é estimada em 117,6 milhões de toneladas, uma redução de 10,9% ou 14,3 milhões de toneladas em relação à última safra. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) também prevê queda de 5,6% na área plantada e na produtividade.
Impactos climáticos no milho e gergelim
A safra de milho primeira safra, que representa 20,7% da produção total de cereais, vem sofrendo com condições desfavoráveis, incluindo excesso de chuvas nos estados do Sul e baixas precipitações no Centro-Oeste, aliadas a altas temperaturas. Além disso, o replantio, questões fitossanitárias, preços e época de plantio foram outras variáveis que afetaram negativamente a área e a produtividade das culturas.
A plantação de gergelim, por outro lado, não exige muita água e favorece áreas de pleno sol e boa drenagem. O desenvolvimento do gergelim prospera em climas quentes e secos, com temperaturas ideais entre 25°C e 30°C. A agência meteorológica brasileira INMET prevê que quase todo o país verá temperaturas acima da média climatológica ao longo do trimestre no solo sejam elevados na região Sul – onde se concentra grande parte do crescimento do gergelim – num futuro próximo, apesar da previsão de precipitação mais errática. Isto é significativo para a cultura do gergelim porque a umidade excessiva pode prejudicar o crescimento do gergelim, promover doenças fúngicas, causar o acamamento das plantas e até mesmo a queda das flores.
Mas o gergelim cresce nas cinco regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. As regiões Norte e Nordeste terão chuvas abaixo da média devido aos efeitos do El Niño. De acordo com o Centro Climático da APEC (APCC), há uma probabilidade de 80-90% de que estas condições durem até ao trimestre que termina em Maio de 2024. A probabilidade cai para 60% no trimestre de abril, maio e junho de 2024.
Considerações finais
- Embora o Brasil seja um produtor relativamente pequeno de gergelim, a produção tem aumentado nos últimos anos.
- A crescente procura de óleos de sementes está a apoiar os preços do gergelim.
- Uma queda na produção de milho no Brasil poderia criar uma oportunidade para a expansão do gergelim.
- O El Nino poderia provocar chuvas excessivas em algumas regiões, o que seria negativo para o desenvolvimento das culturas.
- Mas outras regiões onde o gergelim é cultivado – como o Norte e o Nordeste – provavelmente sofrerão secas e um alto risco de incêndios florestais.