Pontos Principais

  • Título de renda fixa usado para financiar o agro têm demanda recorde.
  • Emissões aumentaram mais de 500% entre 2018 e 2023.
  • FIAGROs também têm crescido.

Nos últimos anos, houve um crescimento significativo das emissões dos certificados de recebíveis do agronegócio (CRA), um título de renda fixa do mercado brasileiro criado para financiar atividades do agronegócio. Entre 2018 e 2023, o aumento das emissões de CRA foi da ordem de mais de 500%, alcançando cerca de BRL 43,1 bilhões no ano passado. Só em janeiro deste ano, as ofertas de CRA movimentaram BRL 1,5 bilhão, segundo a Associação Brasileira das Entidades do Mercado Financeiro e de Capitais (Anbima).

Fonte: Anbima.

Para o mercado do agronegócio, é uma ótima notícia. O CRA, afinal, representa um dos principais instrumentos de financiamento do setor. Lançado em 2004, oferece boa rentabilidade e isenção na cobrança de imposto de renda para pessoas físicas. Não à toa, em 2023 as pessoas físicas representaram os maiores investidores de CRA. 

Fonte: Anbima.

Com a nova lei de tributação de fundos exclusivos (fundos de investimento com um único cotista, geralmente procurados por investidores de alta renda), aprovada em janeiro deste ano, a expectativa é que haja uma procura maior por instrumentos do mercado financeiro como o CRA, isentos da cobrança de imposto de renda. Pela nova regra, os fundos exclusivos passarão a ser tributados. As alíquotas podem chegar a 20%.

Ao mesmo tempo, uma resolução do Conselho Monetário Nacional estabeleceu uma nova regra sobre as emissões de CRA. Agora, elas só podem ser feitas por empresas que atuam diretamente no setor do agronegócio. Até então, companhias de outros segmentos indiretamente relacionadas ao agronegócio, como redes de fast food, podiam emitir esse tipo de título. 

A organização do mercado e a decisão de tributar fundos exclusivos devem impactar positivamente a demanda por CRA, gerando uma concorrência saudável com as instituições financeiras. Já começa ser observada uma disposição maior dos bancos em oferecer condições mais competitivas na concessão de crédito.

É bom lembrar que desde 2021 a o financiamento do agronegócio conta com outro aliado, os Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais (Fiagro), que também têm crescido. Os Fiagros têm por objetivo captar recursos de pessoas físicas ou empresas interessadas em investir no agronegócio. Os fundos investem em uma ampla gama de ativos, entre eles participações societárias em empresas do setor, imóveis rurais e CRAs.

Fonte: Anbima.

Setor sucroalcooleiro

Esses instrumentos vêm permitindo um maior acesso a capital pelas empresas do agronegócio e, como não poderia deixar de ser, do setor sucroalcooleiro. Os FIAGROs e a maior demanda por CRA vêm abrindo as portas do mercado financeiro para companhias do agronegócio, inclusive aquelas de porte médio que tinham maior dificuldade em obter este tipo de financiamento.

Além disso, as novas formas de financiamento do setor e regulamentações vêm atraindo a atenção de empresas já consolidadas, em um círculo virtuoso de maior acesso ao mercado de capitais e melhores condições de crédito.

No ano passado, por exemplo, a Raízen anunciou a emissão de cerca de BRL 1 bilhão em certificados recebíveis do agronegócio. Um dos objetivos é financiar projetos como a construção de suas plantas de etanol de segunda geração.

Financiamento do agronegócio. Crédito: iStock.

As usinas também têm olhado com interesse crescente para esse instrumento de captação de recursos. ACP Bioenergia, uma das maiores produtoras de cana-de-açúcar do país, emitiu cerca de BRL 150 milhões de CRA em 2022 e BRL 80 milhões no ano passado. O objetivo é financiar o plano de expansão de longo prazo da produção de cana-de-açúcar e grãos. 

A Usina Coruripe é outro bom exemplo. A empresa divulgou a emissão de mais de BRL 156 milhões em 2022. Os recursos foram utilizados para apoiar produtores rurais parceiros da empresa, no Cerrado, que seguem princípios de agricultura sustentável.

Em outras regiões do país, a captação de recursos com certificados recebíveis do agronegócio também tem crescido. O Grupo JB, com atuação no setor sucroalcooleiro e de bioenergia no Nordeste, captou BRL 150 milhões com a emissão de CRA no ano passado. Trata-se de uma tendência que veio para ficar.

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

Mais deste autor