Pontos Principais

  • No ano passado, 111 novas usinas de biogás foram inauguradas, 16% a mais do que em 2021.
  • Neste ano, a produção de biogás deve crescer cerca de 15%.
  • O gás renovável é visto como uma alternativa aos combustíveis fósseis.

O gás do futuro entrou definitivamente na agenda de transição energética. Não resta dúvida de que é uma boa notícia para o planeta – e talvez melhor ainda para o Brasil. Com mais de 80% de sua matriz elétrica composta por fontes renováveis, nos últimos anos o país abraçou a produção de biogás, obtido a partir da decomposição de matéria orgânica por bactérias. O biogás produzido a partir de resíduos da cana-de-açúcar tem sido um dos maiores responsáveis pela geração do gás renovável no país, embora ainda esteja dando os primeiros passos.

O gás renovável é utilizado para gerar energia elétrica. Um equipamento conhecido como biodigestor transforma a matéria orgânica em um gás que, por sua vez, ativa um gerador, produzindo eletricidade. Em sua forma mais pura, o biometano (em que elementos como o gás carbônico são removidos do biogás), pode ser um substituto de combustíveis fósseis como o gás natural e o diesel.

Atualmente, mais de 700 unidades produtoras de biogás estão em operação no Brasil. Só em 2022, 111 plantas foram inauguradas, em uma expansão de 16% em relação a 2021. Muitas são de pequeno porte e estão localizadas em regiões rurais, onde é mais difícil conseguir um abastecimento constante de energia.

Juntas, essas plantas produziram cerca de 2,3 bilhões de Nm3, cerca de 10% a mais do que em 2021, embora a maior parte da produção ainda seja destinada a consumo próprio. 

Fonte: CBIogás 

Neste ano, o mercado deve crescer cerca de 15%, segundo projeções da CBiogás (Centro Internacional de Energias Renováveis e Biogás).

Embora a produção esteja crescendo, ainda é tímida se comparada a de outros países. O mercado está mais avançado em países europeus e nos Estados Unidos, que têm sido mais pressionados pela necessidade crescente de despoluir as suas fontes de energia. Sete países, com destaque para a Alemanha, Estados Unidos, a China e o Reino Unido, são responsáveis por cerca de 74% da produção de electricidade a partir do biogás.

No Brasil, a geração de eletricidade através do biogás atinge pouco mais de 420 megawatts por ano, representando menos de 2% da geração de energia, enquanto na Alemanha chega a 7.500 megawatts.

A expansão da produção de energia por meio do biogás no Brasil, porém, vem se acelerando. Desde 2019, tem havido um crescimento de cerca de 9,5% por ano, segundo dados do governo.

Líder mundial da produção de algumas das principais commodities agrícolas, como a soja e cana-de-açúcar, o que não falta no país é matéria-prima para a geração do gás renovável. Não por acaso, o agronegócio vem decolando na produção de biogás. Em 2022, o setor foi responsável por nada menos do que 63% das novas plantas inauguradas. 

Fonte: CBiogás

Voltado principalmente para o consumo nas próprias fazendas, a produção de biogás demanda investimentos em equipamentos como biodigestores e geradores de energia elétrica, que podem somar cerca de R$ 500 mil.

Para os produtores rurais, o investimento pode compensar pelo aproveitamento de resíduos que seriam descartados e pela garantia de fornecimento permanente de energia elétrica. Além disso, os maiores grupos estão a começar a olhar com carinho para a produção de biometano, atentos ao potencial de mercado. Como pode ser injetado em gasodutos e vendido às indústrias como substituto do gás natural ou do diesel, a expectativa é de um mercado promissor.

Até 2029, o país deverá contar com uma capacidade instalada de 6 milhões de metros cúbicos por dia, recebendo investimentos de cerca de R$ 9 bilhões, segundo estimativas da Abiogás (Associação Brasileira do Biogás).

Grandes empresas vêm anunciando investimentos de peso no setor. Em outubro, o mercado recebeu a notícia da inauguração de uma planta lançada pela Jalles e a Albioma. Localizada em Goiás, a usina deverá gerar cerca de 22GW de energia elétrica, vendidos para o Sistema Interligado Nacional, através da biodigestão da vinhaça.

“Novos projetos devem se beneficiar da evolução tecnológica da produção de gás natural renovável, que tende a se tornar cada vez mais atraente para diversas aplicações. O aproveitamento da vinhaça tem um enorme potencial dada a sua escala e disponibilidade. Há também o aspecto ambiental e da transição energética, no qual o biogás se encaixa perfeitamente.”, diz Christiano Forman, diretor-presidente da Albioma.

“A tecnologia para a produção do gás renovável está em evolução, o que deverá ajudar a reduzir custos. Há também o aspecto ambiental e da transição energética, no qual o biogás se encaixa perfeitamente. Outra dimensão é o aproveitamento da vinhaça, que também é muito interessante”, diz Christiano Forman, diretor-presidente da Albioma.

De modo geral, o interesse pelo setor tem crescido entre as usinas. A São Martinho anunciou recentemente a construção de sua primeira planta de biometano, mediante investimentos da ordem de R$ 250 milhões, no interior de São Paulo. A operação deve ter início em 2025.

A expectativa é produzir cerca de 15 milhões de metros cúbicos de biometano a cada safra, segundo a empresa, que deverão ser injetados na rede de distribuição de gás da região de Araraquara, no interior de São Paulo. 

Projeções de mercado indicam que em 2050 a produção total de biometano no Brasil pode chegar a 59 bilhões de metros cúbicos, especialmente em função da geração de resíduos do setor agrícola do Sudeste e Centro-Oeste.

O gás deve ser direcionado para a descarbonização de setores como o de fabricantes de bens de consumo, transportes e o sistema de distribuição de energia elétrica. Trata-se de uma ampla agenda, em que a demanda deverá continuar em ascensão. Além disso, o preço do biometano ainda é cerca de 65% mais caro do que o do gás natural, já que os processos de fabricação envolvem o uso de tecnologias que ainda não ganharam escala e desafios logísticos.

No Brasil, a maior parte da rede de gasodutos está localizada em regiões próximas ao litoral, onde acontece a extração de petróleo e gás. A exceção é o gasoduto Brasil-Bolívia, que passa pelo Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina. É bom lembrar também que a malha de gasodutos não se expande desde 2013.

Ao mesmo tempo, a produção de biometano concentra-se em locais no interior do país. É possível transportar o biometano de caminhão até gasodutos, mas o mercado estuda alternativas para reduzir esses custos e aprimorar a logística.

O setor, porém, está atento ao potencial do biometano, principalmente em regiões onde o gás natural tem mais dificuldade de chegar. Nesse sentido, o desenvolvimento de novas tecnologias e ganho de escala, que permitem a redução de custos, são considerados de fundamental importância.

O setor batalha por incentivos fiscais e soluções como a criação de corredores logísticos no interior, além de políticas públicas para incentivar o uso do biometano na indústria de óleo e gás e no setor de transportes. Caso tudo caminhe como o esperado, o futuro promete ser promissor. 

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

Mais deste autor