• Embarques de abr 2022 caem 28% em comparação a abr 2021 e são os menores para o mês desde 2019.
  • Exportação de abril cai em relação a março pela primeira na série histórica, iniciada em 1997.
  • No acumulado de 2022, China tem menor participação como destino da soja brasileira desde 2012.

A Secretaria de Comércio Exterior confirmou na quinta-feira, 5 de maio, a expectativa de queda nas exportações brasileiras de soja em grãos em abril. Pelos números oficiais, o Brasil embarcou 11,6 milhões de toneladas, volume 28% inferior ao recorde feito em abril do ano passado e pior resultado para o mês desde 2019. Além disso, a exportação de abril foi inferior à de março pela primeira vez desde 1997, início da série histórica mensal.

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Com isso, a exportação de soja acumulada em 2022 chegou a 32,6 milhões de toneladas, ainda um volume recorde para o período devido ao bom desempenho registrado entre janeiro e março. A expectativa, porém, é de que os volumes sigam recuando nos próximos meses, resultando em exportação em torno de 77 milhões de toneladas no acumulado total de 2022, contra recorde de 86,1 milhões de toneladas em 2021.

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A queda esperada nas exportações brasileiras de soja deve-se à produção menor na safra 2021/22, cujo potencial de 145 milhões de toneladas caiu para 122,7 milhões, de acordo com a estimativa mais recente da AgRural, devido à estiagem que atingiu o Sul do país e o sul de Mato Grosso do Sul. Com 96% da área cultivada no país colhida até dia 5, os próximos ajustes na estimativa de produção devem trazer poucas mudanças.

China perde fôlego

Mas o principal motivo para a redução das exportações brasileiras de soja em 2022 é a demanda mais fraca da China, que está pressionada pelos baixos preços locais
da carne suína – resultado da rápida recuperação do plantel após as perdas causadas pela Peste Suína Africana e pelo ritmo mais lento da reação do consumo. Esse fator, aliado à alta dos preços das matérias-primas para a produção de ração, como a soja, desestimula a demanda por farelo e impacta negativamente a importação de soja em grãos.

De janeiro a abril, a China foi destino de aproximadamente 22,9 milhões de toneladas de soja brasileira. O volume supera ligeiramente os 22,6 milhões de toneladas do mesmo período do ano passado, mas é inferior aos embarques correspondentes em 2020 e representa “apenas” 70,2% do total exportado pelo Brasil, menor participação chinesa para o primeiro quadrimestre desde 2012.

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A participação de outros destinos nas exportações brasileiras de soja tem aumentado nos últimos anos, com destaque para União Europeia, Turquia, Tailândia e Bangladesh. Ampliar o leque de clientes é algo sempre bem-vindo, especialmente num mercado em que um único comprador tem participação tão grande como a China, cuja voracidade por soja tem íntima relação com o crescimento da produção brasileira nos últimos anos.

Mas o país asiático ainda é fundamental para o equilíbrio entre oferta e demanda de soja no Brasil. Agora em 2022, a demanda chinesa mais fraca só não está fazendo estrago nos preços recebidos pelo produtor brasileiro porque houve quebra de safra, porque o câmbio ainda está num nível que favorece a rentabilidade em reais, porque os estoques da oleaginosa são baixos nos EUA e porque as cotações da Bolsa de Chicago ainda contam com um colchão extra de liquidez trazido pelas políticas monetárias e fiscais de enfrentamento da Covid-19.

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Farelo e óleo brilham

Outro fator que limita o impacto negativo da demanda chinesa mais fraca é o bom momento dos preços e das exportações brasileiras de farelo e óleo de soja – estimuladas, por sua vez, pela redução nas vendas de outros países exportadores desses produtos ou de produtos substitutos, como Argentina, Indonésia e Ucrânia.

De janeiro a abril, os embarques brasileiros de farelo de soja somaram 6,3 milhões de toneladas, enquanto os de óleo atingiram 745 mil toneladas, com aumento de 36% e 75%, respectivamente, sobre o mesmo período do ano passado. Nos dois casos, foi o melhor desempenho para os primeiros quatro meses do ano em toda a série histórica iniciada em 1997.

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Último trimestre perigoso

O Brasil normalmente exporta pouca soja em grãos no último trimestre do ano, quando os EUA dominam o mercado internacional com sua produção recém-colhida e os compradores brasileiros oferecem preços mais altos do que os exportadores para garantir oferta de matéria-prima até janeiro, quando começa a colheita no Brasil.

Sabendo disso, e pressionados pela quebra da safra 2021/22 do Brasil, os importadores chineses já se precaveram, reforçando as compras antecipadas de soja 2022/23 dos EUA. Dados do USDA mostram que a China já havia contratado a importação de 7,3 milhões de toneladas de soja americana para embarque a partir de 1º de setembro, início do novo ano comercial dos EUA, contra 3,1 milhões um ano atrás e 1 milhão de toneladas na média de cinco anos.

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Por isso, e num cenário de safra cheia na temporada americana 2022/23, a expectativa é de que os volumes de soja embarcados pelo Brasil caiam ainda mais do que o normal nos últimos meses de 2022. Mas, na esperança de preços mais altos no fim do ano, os produtores brasileiros têm comercializado soja a passos lentos. Levantamento da AgRural mostra que, até o fim de abril, cerca de 73 milhões de toneladas de soja da safra 2021/22 (59,5% da produção total) haviam sido comercializados, contra 96 milhões de toneladas (69,5%) no mesmo período do ano passado.

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A aposta brasileira de deixar para vender mais tarde será bem-sucedida caso a safra 2022/23 dos EUA enfrente problemas climáticos e se o real se desvalorizar mais no segundo semestre – algo comum em anos de eleição presidencial no Brasil. Mas, com muita soja ainda por vender e com a China já bem abastecida nos EUA para os últimos meses de 2022, resta saber se os esmagadores brasileiros chegarão ao fim do ano com fôlego (ou vontade) para pagar os preços que os produtores querem receber. Para que isso aconteça, será fundamental que as exportações de óleo e farelo continuem firmes.