Pontos Principais

Com a queda de produtividade na safra atual causada pela seca, o mercado começa a se perguntar como deverá ser o próximo ciclo. Os olhares estão voltados para produtividade agrícola e clima.

Mercado Discute Perspectivas para a Próxima Safra

Com a colheita da cana caminhando para o fim no Centro-Sul, o mercado começa a se perguntar como será a safra 2025/2026. No ciclo atual, o impacto das secas e incêndios nos canaviais refletiu em uma produtividade acumulada menor, de 83 toneladas por hectare em setembro, 10% inferior ao índice do mesmo período do ano passado, segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).

Agora, uma das principais dúvidas é sobre a capacidade de recuperação dos canaviais e quais áreas precisarão ser replantadas. A produtividade e o ATR também entraram no radar. Conversamos sobre esses e outros temas com Maximiliano Salles Scarpari, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), especializado em cana-de-açúcar. 

Maximiliano Salles Scarpari, do IAC. Foto: divulgação.

Se chover normalmente até março do ano que vem, pode haver uma melhora na produtividade da cana? E o que deve acontecer com os canaviais que ainda não brotaram?

A cana pode ficar em repouso esperando a primeira oportunidade para brotar. Mas, com as secas e incêndios, isso acabou não acontecendo da maneira esperada. De qualquer forma, alguns canaviais vão brotar e serão colhidos em abril. Em outros casos, vai ser preciso fazer o replantio. 

Cultivo de cana em SP: produtores avaliam se replantio será necessário. Foto divulgação.

Haverá um impacto na produtividade e no ATR, já que os canaviais serão colhidos antes de estarem prontos?

Com certeza. O canavial que brotou deve ter uma produtividade menor. As áreas que não brotaram poderão ser replantadas. Há esse desafio na safra de 2025. Precisamos entender quantas áreas vão brotar, quais não terão essa condição e quais serão replantadas. Isso é a chave para entendermos como vai ser a safra.

Se chover normalmente, é possível ter uma recuperação, com uma moagem acima de 600 milhões de toneladas?

Não devemos ter um desempenho em 2025/2026 igual ao da safra atual. A condição climática que enfrentamos agora foi uma das piores em termos de déficit hídrico. O resultado na safra 2025/2026 deve ser um pouco melhor, mas ainda é difícil prever um número.

A redução da expectativa sobre o mix açucareiro refletiu a qualidade da cana nesta safra, que não foi boa. Isso é um reflexo da seca?

Exatamente. A cana não atingiu a maturação plena. As usinas receberam inclusive cana morta. A cana sofreu muito, apesar de o ATR não ter mudado tanto. A cana não estava maturada. E a cana morta leva muitas bactérias e fungos, o que pode afetar a produção de açúcar. Aí, as usinas passam a produzir mais álcool.

Cana sofre para brotar em São Paulo. Foto divulgação.

É como se a cana secasse por dentro?

Exatamente. Em média, quando há cerca de 150 milímetros de déficit hídrico a planta pode ter uma maturação plena. Com 200 milímetros, a irrigação é recomendada. Nessa safra, chegamos a 600 milímetros de déficit hídrico em algumas áreas de São Paulo. Isso significa que houve cana morta, com a qual não se consegue fazer a cristalização. O déficit hídrico afetou a qualidade da cana. Acompanhe atualizações sobre a chuva e a previsão do tempo por área de plantio de cana no CZ app. 

Canaviais mais velhos, que têm raízes mais profundas, conseguem captar a água em uma profundidade maior?

Sim. Quando a planta tem uma raiz mais superficial, o déficit hídrico afeta mais a produtividade. Por isso, canaviais mais velhos podem se recuperar melhor.

Algumas usinas podem intensificar o plantio de cana de 12 meses, mas em geral os canaviais deverão estar mais velhos no ano que vem?

Acredito que as usinas tenham tido dificuldade em realizar o plantio devido ao déficit hídrico e, em 2025, o canavial tende a ser mais velho.

E uma cana de 12 meses tem uma produtividade agrícola menor, não?

Sim. A cana de 12 meses é problemática. As usinas geralmente fogem disso. Elas tendem a plantar a partir de fevereiro até meados do ano. A cana de 12 meses equivale a uma cana de final de safra, com um período muito curto de crescimento. Se acontece algum problema climático entre dezembro e fevereiro, essa cana é a que mais sofre.

A seca tem impacto nos tratos culturais do canavial?

A preocupação maior é em relação aos herbicidas. Talvez seja necessário reaplicar o produto em locais afetados pelos incêndios. Outro ponto diz respeito à aplicação de bioinsumos. Em uma condição de seca moderada, o desempenho de produtos biológicos funciona de uma determinada maneira e em seca extrema funciona de outra forma.

Há dúvidas sobre o comportamento dos microrganismos presentes nos bioinsumos, que têm sido cada vez mais utilizados na agricultura brasileira, em uma situação de seca extrema.

Fonte: Ministério da Agricultura e ABCBio.

Quais são as principais variáveis para prestamos atenção em relação à próxima safra?

Acompanhar a forma pela qual deve acontecer a brotação é primordial, levando em conta que a chuva deve voltar. Também é preciso prestar atenção no índice pluviométrico, principalmente em janeiro e fevereiro. Se houver excesso de chuva, por exemplo, isso pode ser prejudicial.

Devemos levar em conta também as mudanças de padrões climáticos?

Nos últimos dez anos, o déficit hídrico foi crescendo. Também percebemos um leve aumento de temperatura. O melhoramento genético deve buscar variedades de cana mais resistentes a esse novo cenário. Outras culturas, como a laranja e o café, tendem a sofrer mais porque elas têm um período de floração, que pode ser abortado quando a temperatura aumenta. A cana é mais resiliente por não ter essas particularidades. 

Ana Zancaner

Ana graduated from Insper University Sao Paulo in 2013, with a bachelor’s degree in business administration. She joined CZ as an intern in 2013 and is now our senior analyst in our Sao Paulo office. At CZ she is responsible mainly for analysis of the Brazilian sugar and ethanol sector but supporting other consulting requests as well.

Mais deste autor