Pontos Principais
Acordo começou a ser negociado no ano passado e vem avançando rapidamente, segundo o Itamaraty. Os Emirados, considerados um importante hub comercial, representam o principal destino das exportações brasileiras para o Oriente Médio.
Relações Comerciais entre o Brasil e os Emirados Árabes
Depois de concluir as negociações com a União Europeia, o Mercosul vem dando passos importantes nas tratativas com os Emirados Árabes, um relevante hub comercial no Oriente Médio – e o principal parceiro comercial do Brasil na região.
Fonte: Comex
A expectativa é alinhar os pontos principais até o final do ano, segundo fontes do Itamaraty. Com isso, o acordo poderia ser assinado em até um ou dois anos, o que seria um prazo recorde.
Para se ter uma ideia, o acordo do Mercosul com Singapura, assinado em 2023, começou a ser negociado em 2019. Já o tratado com a União Europeia, mais complexo, consumiu mais de duas décadas de idas e vindas.
“No caso dos Emirados Árabes, há um interesse nítido de ambos os lados de levar as negociações adiante por motivos que vão da evolução da balança comercial a oportunidades em setores emergentes”, diz Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.
Mohamad Mourad
Do lado dos Emirados, há um claro apetite por investimentos no Brasil em segmentos como energia, agronegócio e infraestrutura. A preocupação crescente do país com segurança alimentar, que se traduz em esforços para aumentar a participação no mercado de produção agrícola e de infraestrutura brasileiro, é outro ponto favorável.
O Brasil, por sua vez, está de olho nas oportunidades crescentes de embarques para os Emirados. Entre 2013 e 2024, as exportações aumentaram nada menos do que 73%.
Fonte: Comex
Hoje, as vendas externas se concentram em açúcar, aves e carne bovina. No ano passado, o Brasil exportou cerca de USD 1,1 bilhão de açúcar bruto para os Emirados. Os embarques de aves representaram quase USD 1 bilhão. Grandes frigoríficos brasileiros, como a BRF, já revelaram interesse em aumentar sua presença na região por meio de investimentos diretos e exportações.
Fonte: Comex
A evolução da exportação de açúcar para os Emirados também sugere um caminho promissor. Em 2024, o país representou o quarto maior destino das exportações da commodity.
A refinaria Al Khaleej Sugar, de Dubai, considerada uma das maiores do mundo, permanece atenta às oportunidades no Brasil.
Representantes da empresa e do governo brasileiro vem mantendo uma agenda de conversações sobre o projeto de construção de uma biorefinaria na Bahia com capacidade de moer mais de 10 milhões de toneladas de cana por ano. A planta deve demandar um investimento de USD 6 bilhões – o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) deve atuar como um dos financiadores. Um dos principais focos deve ser a fabricação de etanol.
Em outra frente, a Acelen Renováveis, empresa de energia do Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes, criou uma joint venture para construir um parque solar em João Dourado, na Bahia. O complexo deverá atender as necessidades da Refinaria de Mataripe, que pertence ao fundo.
A Acelen também pretende construir uma usina de biodiesel, produzido a partir do óleo de soja e macaúba, com plantas em Minas Gerais e na Bahia. O BNDES já aprovou um financiamento de quase USD 260 milhões para o projeto, orçado em cerca de USD 2,7 bilhões.
Macaúba
Acordo de Livre Comércio Abre Caminho para Investimentos Futuros
Na visão do Itamaraty, essas iniciativas podem ser o ponta pé inicial de uma série de outros investimentos e trocas comerciais que devem se concretizar com a assinatura do acordo de livre comércio. O tratado também prevê também facilitação de acesso ao setor de serviços, inclusive bancos e fundos de investimento, e poderá incluir compras governamentais.
Outro aspecto importante é que, com a redução ou eliminação de tarifas comerciais, o Brasil também poderá se beneficiar de um fluxo maior de importação de produtos essenciais.
Atualmente, o Brasil importa dos Emirados principalmente petróleo, embarcações e plataformas de extração de petróleo. Mas há espaço também para o enxofre, utilizado na fabricação de fertilizantes, e adubo, dois itens fundamentais para a pauta agrícola brasileira. O país importa cerca de 85% de todos os fertilizantes que consome.
Fonte: Comex
Máquinas para a construção civil e agricultura, vendidos pelos Emirados, também já figuram na balança comercial – e tendem a turbinar sua participação na balança comercial no contexto de um acordo de livre comércio. “Há benefícios mútuos nesse tipo de acordo e, no futuro, nada impede que um modelo semelhante de tratado desperte o interesse de outros países da região, que têm proximidade e disposição para estreitar o laço conosco”, diz Mourad, da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira.