Pontos Principais
Primeiro porto controlado pela China no Peru atrai atenção do Brasil. Escoamento de cargas, no entanto, depende da melhoria da infraestrutura de transportes brasileira.
Megaporto da COSCO Pode Beneficiar o Brasil
Um novo megaporto em construção a 80 quilômetros de Lima, no Peru, pode representar uma nova rota de escoamento para as exportações brasileiras de grãos. O porto de Chancay, da estatal chinesa COSCO Shipping, ocupará uma área de 280 hectares, com berços de quase 18 metros de profundidade para receber navios de grande porte. A inauguração está prevista para novembro pelo presidente Xi Jinping.
O governo brasileiro já está preparando medidas para facilitar o comércio com o Peru. Em setembro, agricultores brasileiros embarcaram para o Peru. Em março, foi a vez de representantes do governo brasileiro, como a ministra Simone Tebet, do Planejamento, visitarem o país vizinho.
Uma das primeiras medidas deve ser a instalação de aduanas em Tabatinga, no Amazonas que fica na fronteira com o Peru. A melhoria da infraestrutura de transportes até o Peru também está em pauta. Em um primeiro momento, a visão é que há espaço para aumentar as exportações para o país vizinho, e de lá a China.
Fonte: Comex.
Novo Hub de Exportações?
Hoje, as exportações para o Peru somam cerca de US$ 3,2 bilhões por ano, 52% a mais do que há dez anos. Um dos principais objetivos é turbinar a venda de produtos do agronegócio, como carnes e óleos vegetais, que correspondem a 5% das exportações totais ao Peru.
Fonte: Comex.
Mas talvez um desafio maior ainda seja aproveitar a nova rota para a China para escoar as principais estrelas das exportações brasileiras, como a soja.
Hoje, as exportações de soja estão concentradas nos portos de Santos, que registra congestionamentos frequentes, Paranaguá e Itaqui, no Maranhão.
Fonte: Conab.
Uma das principais vantagens do novo corredor logístico, que vai possibilitar as exportações pelo Pacífico, é o tempo de viagem dos navios. Ao invés de 45 dias, a carga poderá chegar na China em 15 dias.
“Atravessar o Pacífico de ponta a ponta também traz benefício, já que não será necessário passar por regiões como a África, onde os conflitos podem se intensificar”, diz o economista Derek Scissors, do American Entreprise Institute, especializado em investimentos globais chineses e comércio internacional.
Desafios da Logística Brasileira
Mas, para essa alternativa valer a pena, o custo logístico precisa ser interessante. E é aí que o desafio fica maior.
Hoje, há poucas alternativas de transporte entre o Centro-Oeste, principal produtor de grãos no país, e o Peru. Uma das rotas principais é a BR 364, que vai de São Paulo até o Acre, na fronteira com o país vizinho, com vários trechos em condições indesejáveis.
O plano é passar parte da gestão da estrada para a iniciativa privada. O governo deve leiloar quase 500 quilômetros da rodovia, em Goiás e no Mato Grosso, no ano que vem, quando também deve ser lançado o edital de licitação do trecho entre Porto Velho e Vilhena, em Rondônia.
O ponto nevrálgico do escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste, no entanto, é o modal ferroviário, que vem avançando a passos lentos.
Idealizada nos anos 50, a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste, a Fico, que vai cruzar o cerrado até quase a fronteira com o Peru, saiu do papel apenas em 2021. O primeiro trecho, entre Goiás e o Mato Grosso, deve ser concluído em 2028.
“Agora, há um novo ativo importante que é porto de Chancay, e a China tem interesse em promover as exportações pelo Pacífico”, diz Hsia Hua Sheng, professor de finanças corporativas internacionais da Fundação Getúlio Vargas. “Nesse contexto, é importante aprimorar o sistema de transportes no Brasil, algo em que a China pode ser uma parceira”.
O interesse chinês pela infraestrutura brasileira tem se revelado inclusive na forma de financiamentos. Em junho deste ano, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) assinou um contrato com o CDB (China Development Bank) para um empréstimo de US$ 800 milhões para projetos de infraestrutura e agricultura. O BNDES também pretende avaliar uma nova linha de crédito do CDB de US$ 710 milhões.
Não estão descartados novos empréstimos para o desenvolvimento da infraestrutura de transportes. “Tudo vai depender do entendimento entre ambas as partes, mas há espaço para esse tipo de compromisso”, diz Sheng.