Pontos Principais

  • Economia encolhe no último trimestre de 2022, mas volta a crescer no primeiro trimestre de 2023.
  • Agro é considerado o motor do crescimento, com safra recorde de grãos e aumento de produtividade.
  • A lavoura deve faturar quase R$ 870 bilhões, o melhor resultado desde 1989.

Depois de quatro meses consecutivos de queda do PIB, de outubro de 2022 a janeiro deste ano, a prévia do PIB do primeiro trimestre chegou com boas notícias. Nas projeções do Banco Central, houve um crescimento de 2,41% no período em comparação ao último trimestre do ano passado. Quando comparado com o mesmo trimestre do ano anterior, a variação atinge 3,87%. O agronegócio representou 1 ponto percentual dessa expansão, segundo avaliações do banco Bradesco e outras instituições – os resultados oficiais serão divulgados em julho.

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Fonte: Banco Central

A colheita de soja, realizada principalmente entre fevereiro e abril, vem colaborando para o crescimento do PIB, aponta a Fundação Getúlio Vargas (FGV). As perspectivas para o mercado de milho, açúcar, café e outras commodities agrícolas também são positivas. “O expressivo desempenho agrícola, justificado principalmente pela safra recorde de soja e sua elevada participação na agricultura, foi o grande destaque do período”, afirma a pesquisadora Juliana Trece, da FGV, em nota.

A produção de grãos vem sendo constantemente revisada para cima. A última projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgada no dia 11 de maio, indica uma safra recorde de quase 314 milhões de toneladas, 14,7% a mais do que no ano passado. A produtividade deve aumentar 10%.

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Fonte: Conab

A agropecuária deve ter o melhor resultado desde 1989, gerando R$1,21 trilhão, 4% a mais do que no ano passado, segundo projeções do Ministério da Agricultura. A previsão de faturamento apenas da agricultura é de R$ 868,9 bilhões.

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Fonte: Banco Central, IBGE

Estimativas da MB Agro apontam que as exportações do agronegócio devem atingir US$ 172,5 bilhões neste ano, o que representa um aumento de 8% em relação a 2022. A fila deve ser puxada pelo café (crescimento de 45%), açúcar e etanol (21%), papel, celulose e madeira (9%) e soja (8%).

As exportações de soja, carro-chefe da agricultura brasileira, devem somar US$ 65,58 bilhões. “O agronegócio vai ser a salvação da lavoura”, diz Gabriel Barros, economista-chefe da Ryo Asset.

Em 2022, as exportações do agronegócio somaram US$ 159,09 bilhões, um crescimento de 32% em relação ao ano anterior. Foram exportadas 271,4 milhões de toneladas – as vendas de grãos representaram quase 88% desse volume, segundo a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais (SCRI) do Ministério da Agricultura e Pecuária.

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Fonte: Comex

De qualquer forma, é esperada uma expansão tímida do PIB em 2023. O Banco Central projeta um crescimento de 1,2%, enquanto instituições como a FGV trabalham com a faixa de 0,8%. Nessas análises e previsões, a unanimidade é o peso do agro: o campo deve representar três quartos do crescimento esperado para 2023, de acordo com estimativas da FGV.

Enquanto o campo vai bem, outros setores, entre eles o de serviços e a indústria, vem perdendo força, o que ajuda a explicar o impacto do agronegócio no PIB brasileiro em um ano mais desafiador para a economia.

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Fonte: IBGE

Historicamente, o setor representa um quarto da geração de renda no Brasil. Em 2021, o agronegócio contribuiu com uma participação de 26,6% no PIB e, no ano passado, com 24,8%. O aumento de custos da produção, especialmente de insumos como fertilizante, pesou no faturamento do agro em 2022. Agora, com a produção em rota ascendente e uma certa acomodação dos custos, o agro se prepara para bater novos recordes de expansão e renda.

Esse cenário poderia ser ainda mais positivo não fossem antigos problemas como os gargalos de infraestrutura. O limite da capacidade logística é um dos fatores de maior preocupação. O porto de Santos, responsável pelos embarques de 30% dos grãos exportados pelo Brasil, movimenta no máximo cerca de 8 milhões de granéis agrícolas sólidos por mês. Os terminais do chamado Arco Norte, em que os destaques são os portos de Itaqui, no Maranhão, Belém e Santarém, no Pará, têm capacidade de embarcar até 5,3 milhões de toneladas por mês.

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Exportadores de grãos e açúcar não escondem preocupações em relação a gargalos logísticos, com disputa por espaço nas ferrovias e portos. O sinal amarelo também já acendeu sobre filas de caminhões nas rodovias que levam aos terminais portuários e um maior tempo de espera para embarques nos navios, o que provoca aumento de custos.

Mais desafios

Nos demais segmentos da economia, o cenário continua complexo. Responsáveis por quase 80% dos empregos do país, o setor de serviços e o da indústria desaceleraram no primeiro trimestre. O setor de serviços, responsável por quase a metade da geração de empregos no país, fechou o primeiro trimestre com uma retração de 0,3%, enquanto a indústria permaneceu estável (0,0%). Só o agro, com um crescimento de 3%, e o varejo (2%) trouxeram boas notícias.

Na visão do banco Itaú, benefícios como o Bolsa Família, que em fevereiro foi reformulado para que cada família considerada em situação de pobreza (renda mensal per capita de até R$ 218) receba no mínimo R$ 600 por mês, além de R$ 150 por criança de até seis anos, ajudam a explicar a movimentação no varejo. Essas políticas, no entanto, podem ter prazo de validade para estimular a economia. Com a atividade econômica mais fraca e um cenário nebuloso em relação ao desempenho de diversos setores, a expectativa é de um menor crescimento no segundo semestre.

Apesar do crescimento concentrado, uma vez que o alto desempenho da agropecuária está atrelado à produção de soja, o agronegócio deve sustentar grande parte do resultado econômico esperado ao longo do ano. No segundo semestre, as exportações em alta de milho e açúcar, que se concentram nesse período, devem ser determinantes para o resultado econômico.

Neste ano, o Brasil deve embarcar 48 milhões de toneladas de milho, segundo a Conab. Para o açúcar, a expectativa é da segunda maior safra da história. Se o resto da economia de fato não decolar, o agro deverá ajudar o Brasil a fechar o ano no azul.

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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