Pontos Principais
- O El Niño geralmente provoca clima mais quente no Centro-Sul do Brasil.
- Também pode levar a um aumento na precipitação, o que pode afetar a moagem da cana-de-açúcar.
- Aqui, analisamos os impactos do último evento de El Niño.
Espera-se que o El Niño tenha impactos diferentes dependendo da região, mas hoje vamos atualizar sobre o impa cto que pode ter no maior fornecedor de açúcar bruto em 2023: Centro-Sul (CS) Brasil.
Uma atualização recente da NOAA (National Oceanic Atmospheric Administration) mostra que a temperatura da superfície do mar está subindo, mas ainda não atingiu um aumento de 0,5ºC (um dos critérios necessários para a ocorrência de El Niño).
Mas mesmo que esse índice ultrapasse os 0,5 °C, os meteorologistas não confirmarão um evento real do El Niño, a menos que a atmosfera tropical saia de sua condição neutra atual.
Fonte: NOAA
No entanto, a probabilidade de um evento El Niño de julho a setembro aumentou para 90% e supera os 90% até fevereiro próximo.
Efeito na Moagem de Cana do Centro-Sul do Brasil
A região está localizada em uma área onde um evento do El Niño provocará aumento de temperatura, mas não há um padrão claro de chuvas.
A safra de cana de 2023 começou em abril com a menor eficiência em mais de uma década, devido ao alto volume de chuvas. Isso levou muitas pessoas a ficarem preocupadas com as próximas chuvas durante o pico da safra de CS. Até agora, o clima em maio tem sido mais seco do que o normal, permitindo que as usinas recuperem parte do tempo perdido.
A maior parte da moagem ocorre entre maio e setembro, quando cerca de 80% da safra é feita. Em julho, por exemplo, cada dia de paralisação pode significar mais de 200 mil toneladas a menos na produção de açúcar.
A última vez que houve um evento El Niño, foi durante a safra 2015/16 no Brasil. Naquele ano, entre abril e setembro, foram registrados mais de 28 dias de paralisação no CS Brasil – 60% a mais que a média.
O maior volume de chuva teve um efeito benéfico no desenvolvimento da cana (ou seja, produtividade agrícola), resultando em disponibilidade recorde de cana. Apesar da precipitação mais alta, as usinas aumentaram o ritmo de moagem o máximo possível, estendendo a safra até dezembro. Eles finalmente conseguiram moer 618 milhões de toneladas de cana, uma das maiores colheitas já registradas. No entanto, o clima mais úmido também afeta a sacarose, mas negativamente. O açúcar total recuperável (ATR) caiu para 130kg/ton.
O baixo teor de sacarose e os baixos preços do açúcar em 2015 não encorajaram as usinas a maximizar a produção de açúcar de sua sacarose, resultando em uma produção total de 31,2 milhões de toneladas de açúcar.
Hoje estamos em um ambiente diferente. Os preços estão mais altos e as usinas são incentivadas a maximizar a produção de açúcar. Acreditamos ser altamente improvável que a produção de açúcar do CS Brasil caia tanto quanto em 2015/16.
Fazendo um paralelo entre as duas safras, mas respeitando o contexto diferente de cada uma, acreditamos que no caso de um El Niño confirmado e maior precipitação durante a safra, a produção de açúcar pode cair para cerca de 36,2 milhões de toneladas este ano – cerca de 1,3 milhões de toneladas menos do que nossas estimativas atuais.