Pontos Principais

  • As chuvas acumuladas de dezembro a janeiro foram as piores desde 2014.
  • Será difícil compensar a queda nos próximos meses.
  • Revisamos nossa previsão de moagem de cana de 637 milhões de toneladas para 610 milhões.

O clima é sempre o foco quando se discute commodities agrícolas, seja durante a época de plantio, período de desenvolvimento ou durante a colheita. Na safra passada, as chuvas no Centro-Sul (CS) do Brasil, estiveram na média (até mesmo acima em alguns períodos), resultando na maior produtividade agrícola desde o início do histórico em 1997, fechando a safra em 87,8 toneladas de cana por hectare. Com isso, a moagem de cana em 2023/24 deve ultrapassar 650 milhões de toneladas – 36 milhões de toneladas acima do recorde anterior estabelecido em 2015/16. 

No entanto, é muito raro 2 excelentes safras consecutivas na agricultura. Pensando nisso, já estávamos com uma projeção menor para 2024/25, de 637 milhões de toneladas de cana moída. Mas este número agora parece bastante elevado considerando as chuvas desde outubro. Mas quanto menos o mercado deve esperar do CS?

30% Menos Chuvas Desde Outubro

Normalmente esperamos para ver como o clima se comportará no primeiro trimestre antes de fazer uma revisão de safra, já que as chuvas nesse período são críticas para o desenvolvimento do canavial. No entanto, uma bandeira vermelha foi levantada após 3 meses consecutivos de chuvas abaixo da média histórica – e a previsão até o final do 1º trimestre não é muito promissora.


Veja a Previsão Diária no Czapp

Entre outubro e janeiro, as chuvas acumuladas ficaram 30% abaixo da média histórica. A última vez que isso aconteceu foi nos meses anteriores à temporada 2014/15, quando o CS Brasil viu a produtividade agrícola cair 7%. O impacto poderia ter sido ainda maior, mas os canaviais estavam na idade ideal naquela safra, em torno de 3,3 anos – quanto mais velhos os canaviais, mais susceptíveis ao clima adverso. 

A safra 2021/22 registou a maior queda na produtividade agrícola da última década, com o TCH (toneladas de cana por hectare) caindo 13%. As chuvas durante o primeiro trimestre de 2021 não foram tão ruins quanto em 2014 (e foram ainda acima do que as registradas até agora neste ano), mas os canaviais eram muito mais velhos, com média de 3,45 anos. Isso, combinado às chuvas abaixo da média, acabou prejudicando o desenvolvimento do canavial.

Nesta próxima safra, a região de cana do CS Brasil enfrenta 2 problemas: chuvas abaixo da média, como mencionado anteriormente, e um canavial um pouco mais velho.

É Hora Para Uma Revisão?

Ainda estamos no início de fevereiro e pelo que parece será difícil que o tempo melhore. Todos os meteorologistas que consultamos mencionaram mais chuvas no início de cada mês, mas com precipitação caindo depois. Resumindo: menos precipitação e com pior distribuição. 

Com esse clima adverso até agora, optamos por reduzir nossa moagem de cana para 610 milhões de toneladas. No entanto, enfatizamos que há ainda risco para outras revisões dependendo das chuvas daqui para frente.

Sim, já perdi a conta de quantas vezes escrevemos “chuvas” até agora, mas você percebe a importância e o peso que isso tem para o desenvolvimento e disponibilidade de cana.

Quanto Menos de Açúcar?

Embora reduzimos a moagem de cana em 26 milhões de toneladas em relação à estimativa anterior, a mudança na produção de açúcar não é tão drástica. O CS Brasil continuará maximizando o mix de açúcar e, com menos cana e mais investimentos em capacidade de cristalização, o mix de açúcar deverá atingir pelo menos 51%.

Portanto, a produção de açúcar deverá ser de 41,7 milhões de toneladas, o que representa 1 milhão de toneladas a menos que nossa estimativa anterior e 600 mil toneladas a menos em relação à safra 2023/24.

Porém, o mercado mundial não precisa entrar em pânico, já que sabemos que todos estão contando com açúcar brasileiro este ano – mais do que o normal. Embora haja uma redução na produção de açúcar, isso não significa uma redução na oferta mundial. Ainda se espera um ambiente logístico desafiador para o CS Brasil nesta safra, e uma produção maior seria apenas alocada para estoques. Pelo menos agora os estoques de açúcar ficarão um pouco mais leves, mas ainda longe de serem facilmente administráveis.

Ana Zancaner

Ana graduated from Insper University Sao Paulo in 2013, with a bachelor’s degree in business administration. She joined CZ as an intern in 2013 and is now our senior analyst in our Sao Paulo office. At CZ she is responsible mainly for analysis of the Brazilian sugar and ethanol sector but supporting other consulting requests as well.

Mais deste autor