Pontos Principais

  • Frete entre a Ásia e os EUA estabilizou em US$ 1.000 depois de atingir US$ 16 mil em 2021.
  • Acomodação do mercado pode levar a uma queda maior dos preços.
  • O aumento do preço do barril do petróleo, no entanto, representa um fator de preocupação.

Depois de um forte período de aumentos de preços, durante a pandemia, o mercado de frete marítimo começou a voltar para os trilhos a partir de meados do ano passado. Nos últimos meses, o preço para transportar um contêiner de 40 pés da Ásia para a costa leste dos Estados Unidos caiu para US$ 1.000 – no final de 2021, o frete chegou a custar US$ 16 mil.

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Fonte: Bloomberg

Ainda há espaço para uma queda maior nos preços, na visão de fontes de mercado. “Há uma gordura para secar no custo do transporte marítimo, que ainda está um pouco mais alto do que antes da pandemia”, diz Diego Viegas, diretor de vendas da MIB Shipping, empresa brasileira de movimentação de carga marítima, em entrevista ao Czapp.

O mercado, no entanto, também está atento a questões como o aumento do preço do petróleo. No início de abril, a cotação do combustível subiu 8% devido à decisão da Opep de cortar a produção em 1 milhão de barris por dia. Com isso, o preço do barril passou de US$ 80, na maior alta em um ano. “Caso o petróleo continue subindo, poderá haver menos espaço para cortar mais o valor do frete”, analisa Viegas.

Veja mais na entrevista a seguir:

Quais são as perspectivas para o preço do frete neste ano?

Os níveis de frete estão em uma tendência de queda principalmente por causa da situação global, que passa por uma certa estabilidade. O primeiro impacto da pandemia foi de tirar navios de circulação, porque não se sabia o que ia acontecer. A memória da crise financeira de 2008 nos Estados Unidos, em que navios ficaram parados por meses, não desapareceu. O frete de um container da China para o porto de Santos chegou a custar US$ 50 em 2008. Depois, os preços voltaram a subir.

E o que aconteceu com a demanda durante a pandemia?

Como a previsão era que a demanda iria cair muito, vários navios foram tirados de circulação. Mas a demanda não caiu tanto. Até pelo contrário, o consumo em alguns países aumentou em grande parte por causa dos pacotes de estímulo fiscal dos governos. E aí começaram a existir vários gargalos em relação ao frete. Em 2022, o frete entre a América do Sul e os Estados Unidos explodiu. Na rota entre a Ásia e a costa leste americana, aconteceu a mesma coisa. 

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Fonte: FED Saint Louis

Por sinal, uma das rotas mais operadas na época da pandemia era a da China e a costa oeste dos Estados Unidos. Havia muita demora nos portos da Califórnia, inclusive por falta de mão-de- obra. Esse é um dos motivos do aumento do frete?

Esse foi um dos motivos. Outro foi o pacote de ajuda do governo americano à população. Houve um aumento do consumo, como falei. E a maior rota marítima do mundo é entre os Estados Unidos e a Ásia. A maior porta de entrada nos Estados Unidos é a costa oeste. Houve um congestionamento de navios nos portos da costa oeste. Em Los Angeles, levava-se um mês e meio para conseguir atracar o navio. O fretamento de um navio gira em torno de US$ 20 mil ou US$ 30 mil por dia. Imagina 30 dias com o navio parado.

Como está a questão do frete e da demanda agora?

A demanda retraiu. Estamos vivendo um momento de incertezas, globalmente. Hoje, o frete entre a China e a costa leste dos Estados Unidos está em cerca de US$ 1.000. É muito mais baixo do que os valores nas alturas durante a pandemia, mas ainda é uns 20% mais caro do que antes da crise do coronavírus.

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Fonte: Bloomberg

As rotas regulares dos contêineres foram prejudicadas durante a pandemia? E isso já normalizou?

Essas rotas foram prejudicadas sim. Houve um susto no início da pandemia porque ninguém sabia como ia ficar a demanda. Por isso, a disponibilidade de navios foi reduzida. Isso está normalizando agora.

Na pandemia, a escassez de contêiner provocou um aumento de exportações de açúcar por break-bulk, de cargas que são transportadas em caixas, sacos ou barris, não?

Foi exatamente isso que aconteceu. E não foi só com o açúcar. Com o minério de ferro, aconteceu a mesma coisa. Com vendas menores, o minério de ferro começou a ser embarcado em bulk. Isso aconteceu por causas do custo do frete por tonelada.

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Fonte: Bloomberg

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A perspectiva de um crescimento menor da economia chinesa deve impactar o preço do frete?

Deve impactar, no sentido de haver uma queda no preço, porque a China é o país que mais movimenta cargas no mundo. Tudo o que acontece com a China afeta diretamente o frete. Uma queda de demanda de importação na China impacta muito a demanda e, por isso, o valor do frete costuma cair.

O preço do frete para entre os Estados Unidos e Xangai já voltou para algo ao redor de US$ 1.000, como falei, mas ainda está um pouco acima do que custava antes da pandemia.

Ainda tem uma gordurinha para cortar?

Tem e ela vai secar.

O aumento no preço do barril do petróleo devido à queda de produção dos países da OPEP, anunciado no início de abril, deve impactar o frete marítimo?

Isso pode acontecer, embora os efeitos só se façam notar em um intervalo de alguns meses porque os contratos são fechados com antecedência. O armador faz o hedge do custo do petróleo. Caso o petróleo continue subindo, deverá haver um reajuste no preço do frete. O aumento do preço do petróleo, que representa 30% do custo do transporte marítimo, pode ser um indício de que talvez não tenha tanta margem para a redução do valor do frete.

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Fonte: Bloomberg

E como está a questão da disponibilidade de espaço nos navios?

Alguns armadores estão alegando que já está começando a faltar espaço nos navios que fazem a rota entre a Ásia e o Brasil e, que, por isso, pode vir algum aumento no valor do frete. Tudo isso acontece em função de sinais de aumento da demanda. Vale lembrar que os preços do frete são muito dinâmicos.

Qual a periodicidade de reajustes nos preços?

Hoje, os preços geralmente são calculados por mês. Mas os preços são válidos só por uma semana no caso de carregamento de mercadorias da Ásia para o Brasil. A intenção é reagir a cada mudança de mercado de uma forma muito dinâmica.

E como está o mercado de construção naval, há perspectiva de entrega de novos navios?

Sim, há perspectiva de entrega de navios, que levam anos para ser construídos, no final do ano e no início de 2024. Isso deverá ajudar a balancear a demanda.

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Nota: os números de 2025 e 2026 provavelmente aumentarão à medida que mais pedidos forem recebidos em 2022 e 2023

Fonte: IMO GISIS 

Então, podemos esperar um mercado mais equilibrado em termos do preço do frete em 2024?

Exatamente. Grandes empresas do setor já estão informando que, a partir do terceiro trimestre deste ano, há uma previsão de um equilíbrio maior entre a oferta e a demanda. Mas ainda sinais um pouco confusos, com a guerra na Ucrânia, uma menor demanda na China e a situação econômica nos Estados Unidos.

Recentemente, a Europa definiu um conjunto de normas para limitar a emissão de gás carbônico pelos navios. Você tem acompanhado isso?

Sim. Todos os armadores estão focados no combustível verde e energias alternativas. As empresas estão investindo muito nisso. O etanol é um dos combustíveis que os armadores estão olhando com atenção. Há uma preocupação crescente com ESG. E não podemos esquecer que o petróleo é o custo que mais impacta as operações dos armadores, então há também uma razão econômica para a busca por fontes alternativas de energia.

Carla Aranha

Carla joined CZ in 2022 having previously worked at Exame and Valor, leading economic media outlets in Brazil, where she developed projects and news coverage focusing on the agribusiness and commodities markets. Carla is responsible for writing content, providing interesting article´s subjects and reports as well as producing press releases together with the marketing team.

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