Pontos Principais
A produção e as exportações brasileiras de gergelim aumentaram significativamente. Esse crescimento está sendo impulsionado pela alta lucratividade e a expansão de mercado para países como Índia e China. O cultivo acontece principalmente na região Centro-Oeste como alternativa ao milho de segunda safra.
Produção de Gergelim Dá Salto no Brasil
Uma política de abertura de mercado para as exportações do gergelim e a boa rentabilidade oferecida pela cultura estão estimulando os produtores brasileiros a turbinar a produção. Entre 2023 e 2024, a área plantada aumentou 82% e a produção cresceu 107%, segundo a Conab.
Em 2024, a produção alcançou 361,3 mil toneladas, cerca de 775% a mais do que há cinco anos, e neste ano estimativas iniciais indicam que deve chegar a 332,8 mil toneladas, de acordo com a Conab.
Fonte: Conab.
As exportações também deram um salto, passando de 151,2 mil toneladas em 2023 para 246,2 mil toneladas no ano passado, em um aumento de 62%, com uma pequena valorização no preço, segundo a Comex.
Fonte: Comex.
Há bons motivos para o aumento dos embarques e da produção. Em 2020, a Índia, quarto maior importador de gergelim do mundo, assinou um acordo comercial com o Brasil, baseado em protocolos fitossanitários que visam prevenir pragas e doenças, para permitir a importação do gergelim brasileiro.
O acordo, como é comum nesses casos, inclui o compromisso do governo brasileiro de implementar mecanismos rígidos de controle de qualidade do gergelim e a emissão de laudos técnicos e certificados fitossanitários para a carga exportada. O objetivo é comprovar que o produto atende aos padrões de qualidade indianos, como é de praxe em acordos dessa natureza.
A iniciativa proporcionou um aumento significativo nas exportações. Hoje, a Índia responde por cerca de 40% das exportações brasileiras de gergelim.
Fonte: Comex.
Os produtores brasileiros também tiveram uma boa notícia no final do ano passado, quando o governo brasileiro fechou um acordo para a abertura do mercado chinês ao gergelim brasileiro da mesma forma como foi feito com a Índia, com base em um acordo sobre padrões fitossanitários e controle de qualidade.
A China é líder mundial nas importações do grão, seguida pela Turquia e pelo Japão.
Fonte: FAO
Com a assinatura do acordo fitossanitário com a China, o Itaú BBA espera que as exportações atinjam um novo patamar de crescimento. “Os embarques para a China devem ganhar força nos próximos anos, uma vez concluídas as negociações”, disse Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, que recentemente conduziu um estudo sobre o mercado de gergelim.
Hoje, o Brasil exporta principalmente para a Índia e Turquia. O restante das vendas é pulverizado entre países como a Guatemala, Vietnã e Arábia Saudita.
Fonte: Comex.
O acordo de livre comércio entre o Mercosul e os Emirados Árabes, um importante hub de distribuição no Oriente Médio, também pode ajudar as exportações, já que países da região está entre os maiores importadores do gergelim produzido no Brasil.
Rentabilidade Favorece Gergelim
Outro ponto fundamental é a rentabilidade oferecida pelo gergelim, que é cultivado na segunda safra de grãos no Brasil. Não à toa, o Mato Grosso, celeiro de grãos no país, lidera a produção da commodity, concentrando mais de 60% do seu cultivo, seguido pelo Pará (22%) e Tocantins (13%), segundo a Conab.
O gergelim vendo sendo considerado uma alternativa ao milho de segundo safra em função do baixo custo de produção e o preço final. Hoje, o investimento para cultivar gergelim gira ao redor de BRL 1000 por hectare, um terço do valor necessário para plantar milho, segundo o Itaú BBA.
Essa diferença de custo se deve principalmente a menor necessidade de adubação e a boa adaptabilidade da cultura a condições de seca que costumam afetar o Centro-Oeste.
O preço é outro importante atrativo. No ano passado, o milho brasileiro foi vendido por aproximadamente USD 200 por tonelada, enquanto gergelim alcançou cerca de USD 1.411 por tonelada, segundo a Comex, em uma tendência que vem se mantendo nos últimos anos.
Mas os agricultores podem ter alguma dificuldade em acessar mercados internacionais. “O milho é negociado na Bolsa de Valores e precificado no mercado do futuro, diferentemente do gergelim”, explica Wharlhey Nunes, analista da Consultoria Agro do Itaú BBA. “O produtor leva tudo isso em consideração”.
Produtividade Continua um Desafio
Outro desafio a ser superado é a baixa produtividade do gergelim brasileiro. Apesar de alguns produtores já conquistarem uma produtividade de 1.000 quilos por hectare, semelhante à do milho, a média nacional é de cerca de 540 quilos por hectare, segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
“O ideal seria atingirmos cerca de 600 ou 700 quilos por hectare, valor obtido por alguns dos principais países exportadores, especialmente na África, que já têm mais tradição na produção do grão”, diz Nair Helena Castro Arriel, pesquisadora da Embrapa.
Fonte: FAO.
A Embrapa vem trabalhando no desenvolvimento de novas espécies. Os principais focos da pesquisa são variedades mais resistentes à escassez de chuvas e à deiscência (a abertura prematura das vagens que guardam as sementes). “Essas inovações, junto à crescente mecanização da lavoura, devem aumentar a produtividade”, diz Arriel.
Gergelim Deve Continuar em Forte Ascensão
Os produtores de gergelim estão mirando não só a rentabilidade atual da cultura, mas também as perspectivas de longo prazo. Em 2023, o mercado global de gergelim deve movimentar cerca de USD 7,8 bilhões neste ano, segundo a Morder Intelligence, e quase USD 9 bilhões em 2030.
A produção de gergelim em mercados tradicionais na África também está se tornando cada vez mais complexa em meio a disputas geopolíticas, étnicas e territoriais, o que pode permitir ao Brasil preencher as lacunas.
As propriedades do gergelim, rico em proteínas, minerais e vitaminas, vêm impulsionando o consumo. As sementes e o óleo são utilizados principalmente na culinária, em especial em países asiáticos. Nos últimos anos, o gergelim também se tornou um insumo da indústria de cosméticos, sendo usado na formulação de produtos para o cuidado com a pele.
“Os benefícios do gergelim, na alimentação e outras indústrias, têm colaborado para o aumento da demanda, o que abre um horizonte de oportunidades para os produtores”, diz Arriel.
