Pontos Principais

  • Brasil exportou 10,4 mi de toneladas de farelo no 1º semestre de 2022, novo recorde para o período
  • Quebra da safra 21/22 de soja pesa na exportação do grão, mas não impede avanço do esmagamento
  • Redução no uso doméstico de farelo, reflexo de momento delicado nas carnes, favorece venda externa

 
 

O Brasil terminou o primeiro semestre de 2022 com um novo recorde na exportação de farelo de soja. Dados do Ministério da Economia mostram que os embarques do produto somaram 10,4 milhões de toneladas no período, com aumento de 28% sobre os 8,1 milhões de toneladas exportados nos seis primeiros meses do ano passado e avanço de 21% na comparação com os 8,6 milhões de toneladas do recorde anterior, feito em 2018.

Os principais destinos foram União Europeia (4,5 milhões de toneladas, com crescimento anual de 20%), Indonésia e Tailândia (1,5 milhão de toneladas cada, com avanço de 47% e 12%, respectivamente) e Vietnã (975 mil toneladas, quase o dobro na comparação com o mesmo período de 2021).

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A expectativa da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais) é de que 2022 termine com exportação total de 18,5 milhões de toneladas de farelo, superando em 1,4 milhão de toneladas o recorde anual feito em 2021. Isso acontece mesmo em um ano de forte quebra de produção no Brasil, já que a safra 2021/22 de soja, colhida entre janeiro e maio, somou apenas 124 milhões de toneladas, contra expectativa inicial de 145 milhões, devido à estiagem que afetou o Sul do país e o sul de Mato Grosso do Sul.

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Safra Menor, Mas Com Esmagamento Mais Alto

Apesar da produção menor, a estimativa da Abiove é de que o esmagamento de soja termine 2022 em 48,3 milhões de toneladas, contra 47,8 milhões em 2021, quando a produção de soja alcançou 138 milhões de toneladas. O esmagamento cresce às custas da queda na exportação de soja em grãos, estimada pela maioria das fontes entre 75 milhões e 77 milhões de toneladas, ante recorde de 86,1 milhões de toneladas no ano passado.

Essa redução nas exportações de soja em grãos, por sua vez, é resultado da importação menor por parte da China e da melhora das margens de esmagamento do Brasil. As margens foram puxadas pelos preços firmes dos óleos vegetais e pelo aumento da demanda internacional por óleo e farelo de soja nos primeiros meses de 2022, quando os subprodutos brasileiros supriram parte da queda nas exportações de óleos e farelos de outros países, como Indonésia, Ucrânia e Argentina.

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Queda no Consumo Doméstico

O salto nas exportações brasileiras de farelo de soja, porém, é apenas parcialmente explicado pela queda nos embarques de soja em grãos e pelo aumento de meio milhão de toneladas no esmagamento. Com produção de farelo estimada pela Abiove em 37 milhões de toneladas, pouca coisa acima dos 36,8 milhões de toneladas do ano passado, o Brasil só está conseguindo aumentar as exportações de farelo de forma significativa porque o consumo interno do subproduto está em queda. De acordo com a Abiove, as vendas das indústrias esmagadoras para o mercado doméstico devem somar apenas 18,1 milhões de toneladas em 2022, 1,1 milhão a menos que no ano passado e menor volume desde 2019.

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Momento Delicado Para as Carnes
 

Maior exportador mundial de carne bovina e de frango e número quatro do mundo nas vendas externas de carne suína, o Brasil teve aumento expressivo nos seus embarques para o exterior nos últimos cinco anos. As exportações de carne suína saltaram 61% no período, enquanto as de carne bovina subiram 40%. Já os embarques de carne de frango, mercado no qual o Brasil é líder há mais tempo, cresceram 4%.

No caso da carne suína, as exportações foram muito favorecidas pelo aumento da demanda chinesa a partir de 2019, devido à Peste Suína Africana, que reduziu a produção doméstica da China. Em 2018, o Brasil exportou 722 mil toneladas de carne suína; em 2021, o volume chegou a 1,321 milhão de toneladas. Agora em 2022, porém, as exportações devem recuar para algo em torno de 1,250 milhão de toneladas em meio à redução das compras chinesas e à estagnação da produção no Brasil, onde o aumento nos custos de produção e a dificuldade de repassar esses custos para o preço pago pelo consumidor final levaram a um forte estreitamento das margens dos produtores.

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Consumo Interno em Queda

Mais firmes, as exportações de carne bovina e de frango continuam crescendo em 2022 e assegurando um cenário mais positivo de renda para o produtor. O consumo brasileiro de carnes em geral, porém, tem sido fortemente afetado pela perda de poder aquisitivo da população, agravada pelos efeitos econômicos da pandemia de Covid-19.

Em 2021, o consumo per capita de carne bovina no Brasil foi o mais baixo desde a década de 1980. Mais baratas, as carnes suína e de frango, cuja produção tem alta demanda por farelo de soja, são alternativas mais acessíveis. Mesmo assim, seu consumo cresceu pouco em 2021 e deve ter recuo em 2022. Nesse cenário, a demanda interna por farelo de soja perde espaço. O aumento na demanda externa pelo produto, a melhora nas margens de esmagamento e o recorde de exportação, portanto, vieram em boa hora para o Brasil.

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