Pontos Principais
Raízen fecha parcerias com empresas globais para a produção de SAF no Brasil, que deve acontecer a partir de 2027. Combustível sustentável de aviação deve movimentar indústria de etanol.
Brasil deve produzir SAF a partir de 2027
Na corrida mundial pela descarbonização, a produção de SAF, o combustível sustentável de aviação, ocupa um lugar de destaque. E o Brasil, segundo maior produtor mundial de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos, deve entrar com força nessa disputa.
A Raízen pretende largar na frente, através de acordos para o desenvolvimento de SAF com parceiros internacionais. A expectativa é que a produção de SAF no Brasil comece nos próximos três anos. “Vamos converter a capacidade de geração energética brasileira em produtos para atender as metas de descarbonização”, diz Paulo Côrte-Real Neves, VP de Trading da Raízen, em entrevista ao CZ app.
Paulo Côrte-Real Neves, VP de Trading da Raízen. Fonte: Raízen.
Como está a busca de parceiros para implementar a planta de SAF da Raízen no Brasil?
Temos trabalhado muito para promover e ajudar nossos parceiros no mundo que têm interesse em desenvolver a conversão de etanol para combustível de aviação, a alcohol-to-jet (ATJ). O Brasil não detém essa tecnologia. Mas algumas empresas no mundo estão avançando em seu desenvolvimento e temos atuado junto a elas para apoiar esses avanços.
O objetivo da indústria de aviação é atingir mais de 25 milhões de metros cúbicos de SAF em 2030 e 25% disso deverá vir do etanol. Então, esse é um novo mercado com um potencial muito interessante.
Como estão as pesquisas para desenvolver o SAF no Brasil?
Estamos trabalhando com parceiros globais para desenvolver a produção de SAF aqui. Existem grupos de trabalho com diferentes parceiros para buscar essa solução. O SAF produzido no Brasil deve ter uma pegada de carbono menor em função de nossa matriz energética ser renovável, o que é um atrativo.
Em quanto tempo o Brasil poderá começar a produzir SAF?
É difícil falar sobre isso porque existe uma incerteza sobre o processo de maturidade da tecnologia. Mas temos a expectativa de que ainda neste ano ou em 2025 essa tecnologia possa evoluir para a produção em maior escala. Ao superar a barreira tecnológica, um negócio dessa natureza pode levar de dois a três anos para estar pronto. Então, estamos falando de 2027.
Não está tão longe, não é?
Não. E o mundo precisa de SAF. As companhias aéreas e os diferentes players nessa indústria precisam de uma solução de descarbonização. Novas soluções precisam se desenvolver para atendemos os objetivos de descarbonização de 2030 e a do alcohol-to-jet parece ser muito adequada. Hoje, a aviação é responsável por cerca de 3% das emissões do carbono no mundo e até pouco tempo atrás não havia uma solução para a descarbonização.
Fonte: IEA.
Hoje, o custo do SAF é de três a quatro vezes maior do que o do combustível convencional de aviação. Isso é um desafio?
Sim. Esse fator é fruto do estágio atual de desenvolvimento da tecnologia. Certamente, ao longo dos próximos anos nós vamos ver essa indústria evoluindo. Os custos serão decrescentes. À medida que a tecnologia evoluir e ganhar escala, haverá total condição de promover uma solução competitiva e aumentar a produção.
Fonte: IATA.
O etanol de segunda geração também será mais competitivo?
Sem dúvida. Temos duas plantas e estamos construindo outras duas que deverão ficar prontas neste ano. Outras duas unidades deverão ser inauguradas no ano que vem. Estamos replicando a planta que já existe há dez anos, mas obviamente há uma série de aprendizados que a gente vem implementando. Isso faz com que os custos baixem e vai impactar positivamente inclusive na produção de SAF.
Ao passar o primeiro ciclo de dez anos, quando o investimento é remunerado, o custo de produção do etanol de segunda geração torna-se inferior ao de primeira geração até porque ele é feito de um resíduo da cana.
A Raízen tem se dedicado também ao desenvolvimento de etanol para ser usado como combustível de navios. Em que fase essa tecnologia se encontra?
Esse mercado deverá ter uma escala muito relevante, parecida com a do SAF. A indústria marítima consome cerca de 140 milhões de metros cúbicos de combustível por ano. Então, a cada 1% que se adiciona de biocombustível, isso já soma 1,4 milhão de metros cúbicos.
Assinamos no ano passado um acordo de colaboração com um dos maiores construtores de navios no mundo, uma empresa finlandesa, a Wartsila. Estamos na fase de testes para comprovar que os motores poderão usar etanol e metanol. E à medida em que as frotas vão se renovando, elas poderão ser construídas com esses motores. A tecnologia já existe. Ela está sendo comprovada agora e estamos muito otimistas.
Fonte: IEA.
Isso deverá abrir um grande mercado para o etanol?
Sem dúvida. É um mercado enorme que a gente espera explorar. Claro que tem um tempo para a renovação da frota acontecer. Cada navio dura em média 20 ou 25 anos. Mas a frota não tem sido renovada nos últimos anos justamento porque os armadores têm uma incerteza, já que os motores existentes hoje não têm alternativa de descarbonização.
Fonte: AXS.
Como eles estão construindo navios que vão ficar em operação por 25 anos, eles sabem que não vão poder usar o motor atual. Então, existe uma demanda reprimida de construção de navios.
Gostaria de lembrar que o Brasil é hoje uma referência mundial de produção de energia renovável. A nossa jornada na Raízen é converter a capacidade de geração energética em produtos reconhecidos internacionalmente para atender as metas de descarbonização.